A arte de ensinar

15 de Outubro é comemorado o Dia do Professor, profissional responsável, não só pela disseminação de conhecimento teórico, mas também por participar de parte importante na vida e na formação da personalidade de seus alunos. Por isso, fazemos uma homenagem a uma das profissões mais significativas e difíceis de nossa sociedade

01/10/2018 Especiais Carolina Padilha Alves Tiago Sutil

No Brasil, comemoramos o Dia do Professor em 15 de Outubro, data esta em que, no ano de 1827, Dom Pedro I baixou um decreto que criava o Ensino Elementar em nosso país. Este passo, garantiu que todas as cidades e vilas tivessem obrigatoriamente escolas de primeiras letras, além de definir as matérias básicas que deveriam ter, o salário e contratação dos professores, entre outros.

Como sabemos, o exercício do professorado, apesar de ser uma das competências mais admiradas, sofre com algumas questões como a superlotação das salas, salário desvalorizado, condições precárias de trabalho na estrutura de algumas escolas e, principalmente, com a indisciplina dos alunos.

Outra questão de extrema importância que acaba acarretando problemas para este trabalhador, é a inversão de papéis entre o professor e os pais, sendo que o dever do primeiro é escolarizar e do segundo, educar. Esse mal entendido acaba sobrecarregando as escolas com um dever que não é delas e deixa de lado o dever legítimo dos pais ou responsáveis em preparar as crianças e jovens para o mundo, especialmente quando se trata de valores como respeito e senso de coletividade.

Apesar de todos os percalços, os professores compartilham entre si o dom de adquirir e passar conhecimento, ajudando as pessoas, desde suas primeiras palavras, até a sua formação no ensino superior, a absorverem melhor os conteúdos que, sem a ajuda deles, seria quase impossível assimilar.

A relação professor-aluno, muitas vezes, ultrapassa as paredes da sala de aula e torna-se uma relação maternal/paternal, em que a confiança, respeito e afeto seguem por muitos anos após o término do período das aulas. Para falar melhor sobre isso, convidamos alguns dos professores de nossa cidade para compartilharem sua carreira em modalidades de ensino diferentes das que estamos habituados a ver, dividindo as surpresas que tiveram durante a trajetória profissional.

Educação inclusiva

Alexandra Borba é uma professora que voltou o seu olhar para a inclusão e traçou a sua carreira em cima dessa tão importante questão social, trabalhando há quinze anos com alunos que possuem diversos tipos de deficiência. No ano de 2001, abriu a primeira sala de recursos multifuncional da 23ª Coordenadoria Regional de Educação, na época somente para alunos com deficiência intelectual, na cidade de São Bernardo, a qual foi assumida por ela.

Foi nesse período que surgiram discussões e, posteriormente, políticas que começavam a considerar como direito da pessoa com deficiência o acesso ao ensino regular, desde que as salas de aula e seus professores lhe dessem melhores competências para estar inserido naquele ambiente. “Anteriormente, existiam as classes especiais, onde o aluno com deficiência estava dentro da escola, mas separado dos demais. E isso não se classifica como inclusão”, defende Alexandra.

A sala de recursos, nada mais é, do que um espaço que viabiliza a inclusão do aluno na escola e na sociedade, com atendimento educacional especializado e individualizado para todos os alunos incluídos, que tem acesso a esse atendimento no turno contrário de suas aulas regulares. Nesse espaço, é realizado atividades de estimulação, de acordo com as necessidades específicas de cada um, e de forma muito ampla, indo desde a aprendizagem de conteúdo escolar, até o desenvolvimento de funcionalidades do dia a dia, como a iniciativa de ir ao mercado e localizar-se, por exemplo.

Há seis anos responsável pela sala de recursos da escola Jardim América, Alexandra atende crianças com síndrome de down, autismo, deficiência intelectual, surdos, deficiência auditiva, deficiência visual, deficiências múltiplas e aqueles com altas habilidades. “Todos somos sujeitos diferentes, independente de termos, ou não, deficiência. Nosso objetivo não é deixar os alunos incluídos iguais aos demais, mas sim ofertar a eles possibilidade de aprendizado dentro de um espaço comum e orientar os professores em como proceder tendo um aluno incluído em suas aulas”, explica a docente.

Além do trabalho realizado dentro da sala de recursos, os demais alunos da escola também fazem atividades e recebem, a todo momento, conteúdos e medidas de conscientização, fazendo com que eles entendam a importância dos colegas com deficiência estarem dividindo a mesma sala. “A minha escolarização aconteceu na época em que ainda existiam as classes especiais. Por isso, já identifico uma evolução enorme nesse micro-sistema chamado escola, que está dentro de um macro, que é a sociedade e que está cheia de preconceitos. Acredito que ainda temos uma longa caminhada evolutiva pela frente e que, com persistência e boas iniciativas, chegaremos lá”, declara, esperançosa.

Educação prisional

Renato Rufino da Costa é formado em Letras e pós-graduado em Gestão Escolar, Supervisão e Orientação Educacional, lecionando há vinte e quatro anos em nossa cidade. Desse tempo, dez anos foram dedicados a uma modalidade educacional pouco conhecida pela maioria, chamada de Educação Prisional.

A atividade consiste em, basicamente, dar aulas para os privados de liberdade, sob forma de preparação para que os mesmos obtenham êxito durante a realização dos exames de suplência ENCCEJA - Ensino Fundamental ou Ensino Médio e/ou ENEM, garantindo certificação parcial ou de conclusão. “Quando eu comecei, muitos me disseram para não atuar nessa área, devido ao perigo que eu poderia correr. Porém, decidi abraçar a ideia e fui acolhido pela professora Dilce Marchioretto, que era quem atuava como professora em 2008, ano que iniciei na casa prisional. Ela me passou muitas dicas e me deu um norte para que eu começasse a minha caminhada”, relembra Renato.

A finalidade desta modalidade de ensino dentro do presídio é, além  da remição que os alunos conquistam pela frequência nas aulas, ainda contribui para o processo de ressocialização do detento que, ao retornar para a vida em sociedade, terá um leque de possibilidades para seguir uma vida profissional satisfatória.

As condições de trabalho de Renato, como pode-se imaginar, não são as melhores. A sala de aula, que antigamente era uma cela, fica com a porta trancada, com um guarda para o lado de fora, dando assistência ao professor. Dentre esses alunos, estão os condenados pelos mais diversos crimes, homens e mulheres, com idades entre dezoito e trinta anos.

A casa prisional de Vacaria atende quarenta educandos, divididos em quatro turmas de dez alunos cada. Muitos deles tentam conversar com o professor sobre sua realidade, mas ele tenta se manter o mais neutro possível. “É difícil, pois eles tentam se explicar, pedir conselhos, contar a versão deles, mas eu prefiro nem escutar e não vou a fundo para saber o que cada um fez. Eu simplesmente faço o meu trabalho e acredito na evolução do ser humano, por isso me dedico há tanto tempo nesse ofício e tento fazer a diferença com as minhas ideias e atitudes lá dentro”, diz o docente.

Nas aulas, além do conteúdo programático, Renato decidiu que queria fazer algo diferente para aquelas pessoas, instigando o lado artístico de cada um. “Normalmente é trabalhado o artesanato com os detentos. Porém, decidi envolvê-los com desenho e pintura, propondo uma releitura de lugares significativos de Vacaria, onde eu entregava fotos de locais como a catedral e o rodeio, e eles desenhavam conforme sua interpretação. Os desenhos foram classificados na 1ª e 2º Mostra Pedagógica do CPERS/Sindicato e hoje decoram as paredes do presídio de Vacaria. Esse trabalho foi até Porto Alegre, participar da fase estadual”, explica Renato.

Para tornar o ambiente de estudo dentro do presídio mais agradável, o professor conseguiu algumas doações de itens importantes que o motivam a continuar seu trabalho e também motiva seus alunos a manterem a frequência. “Cortinas, cadeiras, livros, ventilador, armário e as molduras dos quadros onde ficam os desenhos, são algumas das doações que consegui com amigos e parceiros da nossa comunidade”, comenta.

Renato conta que nunca teve nenhum problema com os presidiários, que sempre se sentiu respeitado e que, além de desempenhar este trabalho, continua dando aulas nas escolas Bernardina Rodrigues Padilha e Padre Efrem, como orientador educacional em ambas.

Apesar de receber algumas críticas da sociedade, devido toda a ajuda e tempo que dispõem para trabalhar na casa prisional, Renato é incansável em seu propósito de vida e acredita que pode, sim, fazer a diferença. “Noto que algumas pessoas têm sede de punição, de ver o sofrimento dos outros e esquecem da importância dos direitos humanos. Dou o meu melhor pela educação, que é um direito e não um privilégio, e fico muito feliz em dizer que nenhum dos meus alunos reincidiram no crime depois de libertos. Pretendo continuar desempenhando o meu papel, plantando o bem no coração das pessoas”, pontua.

Violência escolar

A violência é uma preocupação constante, pois atinge as pessoas na sua integridade e segurança. É um resultado, um modelo de desenvolvimento e tem suas raízes na história, enquanto humanidade.

Esse cenário violento tem preocupado o poder público e toda sociedade, principalmente da maneira como tem se manifestado. A notificação diária de casos de violência nas escolas, infelizmente é uma realidade. A violência física é destacada com mais ênfase nas manchetes, porém são várias as questões que levam a violência para o ambiente escolar: diferenças sociais, culturais e psicológicas, insultos, bullying, cyberbullying, homofobia, discriminação, preconceitos, sendo o tipo de violência mais difícil de ser respondida, pois tem um estigma social forte e de indícios ocultos.

Existe ainda todo um contexto de violência que acontece no entorno, no ambiente externo, que influencia diretamente no ambiente interno da escola, pois quem a frequenta, vive realidades diferentes, culturas diversificadas e sendo assim, a manifestação passiva ou ativa de violência pode ocorrer dentro da escola, formando então o “clima escolar”.

O ambiente escolar precisa ser qualitativo em sua amplitude e para que este ambiente seja aperfeiçoado nas escolas, é possível que sejam realizadas algumas práticas para a reconstrução deste espaço. “Necessita-se de um resgate de emoções, conhecimentos e memórias da comunidade escolar, o enfrentamento desta realidade deve ser via entendimento, através de momentos de diálogos e experimentação. Os conflitos podem se tornar oportunidades para trabalhar valores e regras”, comenta Cassiane Paganella, Assessora Pedagógica da 23ª Coordenadoria de Educação.

É necessário transformar o conflito em oportunidade, e desenvolver uma educação para a convivência, a fim de construir uma cultura de paz e cidadania, já que o conflito é natural e inevitável na condição humana.

Nessa perspectiva de prevenção do âmbito escolar, as Comissões Internas de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar – CIPAVE - trabalham no diagnóstico dos tipos de violência na escola para, com ações preventivas, buscar e efetivar com maior probabilidade a cultura de paz.

Incentivo à leitura

Rosa Augusta Varaschin Gasperin é mais uma professora engajada em projetos culturais para a nossa cidade. Ela é presidente da Associação Amigos da Biblioteca Pública Municipal Theobaldo Paim Borges, associação esta sem fins lucrativos e sem nenhuma ligação com órgãos públicos.

A ABT foi criada em Abril de 2016 e, nesses seus mais de dois anos de funcionamento, já realizou inúmeras ações em parceria com empresas e entidades de nossa cidade, sempre visando fomentar o hábito da leitura, propondo, produzindo e divulgando tudo que se faz na área da literatura. Atualmente, integram a diretoria, além de Rosa, o vice-presidente André Tessaro, a Secretária Márcia Pegorini, a Tesoureira Aline dos Reis Oliveira e o Bibliotecário Cirano Cisilotto.

Os projetos permanentes, anuais ou mensais, agregam e incentivam os vacarianos a despertarem o universo da leitura dentro de si. Conheça alguns deles:

  • Todo dia 18 de Abril - Dia do Livro - acontece o Sebo Livros nas Mãos, onde os interessados em adquirir títulos podem se dirigir até a frente da Biblioteca Pública e levá-los para casa por valores baixíssimos;

  • O Clube da Leitura ocorre na última quarta-feira de todo mês, dentro da Biblioteca Pública;

  • Ler no Hospital, projeto que possibilita que os pacientes, enquanto internados no Nossa Senhora da Oliveira, tenham acesso a inúmeros títulos;

  • Programação diferenciada dentro da Feira do Livro de cada ano, como cinema e rodas de conversa.

  • O Dia Em Que a Cidade Lê e Se Encanta, que terá sua primeira edição no dia 11 deste mês.

    Paralelos a eles, acontecem atividades, como a revitalização da Biblioteca Pública, com verba provinda da arrecadação do sebo, além de doações de produtos e serviços, como a chegada de computadores novos, enviados pelo Ministério Público. “Deixamos aqui um convite para quem quiser integrar o nosso grupo de voluntariado, para ajudar a preservar a nossa biblioteca, transformando-a em um espaço lúdico e democrático”, comenta Rosa.

    Para mais informações, entre em contato com a Biblioteca Pública Municipal pelo telefone (54) 3232.5114, pelo e-mail biblioteca.smed@vacaria.rs.gov.br, ou acessando a página www.facebook.com/abtassociacaoamigosdabiblioteca.

 

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