Matérias

Decoração sem desperdícios

Bianca, Pedro e Cristina decoraram suas residências reutilizando
materiais que, antes, tinham como destino o lixo

27/08/2015 Artigos Carol Corso e Matheus Huff Bruna Bueno

Lixas, tintas e pinceis. Talvez a lista aumente um pouco dependendo da ideia. Mas o certo é que não são necessários muitos elementos para a decoração de qualquer espaço. Ainda mais quando a criatividade é a principal aliada e sabe reaproveitar materiais que, antes, tinham como destino a lata do lixo. Muitos descartes podem ser repaginados de uma forma barata e sem desperdício de matéria. A decoração voltada ao reaproveitamento de móveis e objetos colabora diretamente com o meio ambiente, além de representar originalidade e mais estilo para a casa.

Os móveis da cozinha de Bianca foram reformados com a técnica de pátina

O móvel vermelho era antes uma prateleira de lavanderia que Bianca pintou e colocou suspenso no corredor da casa para guardar livros e souvenirs. Outra dica deste espaço é usar cartões postais como quadros. É uma forma barata e simples de recordar viagens. Basta emoldura-los

Desde que começou a morar com seu noivo, a advogada e artista plástica Bianca Faoro decidiu que seus móveis seriam, na sua grande maioria, restaurados. “Eu sempre gostei de coisas antigas, que me trouxessem memórias. Então, me interessei pela restauração. Fiz pesquisas em revistas e na internet e comecei a colocar isto dentro de casa”, conta. Seus móveis são estilizados, mas sem retirar as marcas do tempo, o que para a advogada, é fundamental. “O móvel precisa apresentar esta identidade antiga. Mostrar que tem uma história e trazer uma recordação boa. Quando olho para o meu quarto, me lembro da minha bisavó, pois o conjunto foi herança dela”, comenta.

Além dos móveis de família, a casa da advogada é mobiliada com artigos vindos de brique ou adquiridos em sítios, já que estavam “jogados num canto e sem serventia”. Para reformar alguns deles, Bianca usou a pátina, uma técnica de pintura decorativa que pode ser aplicada em várias superfícies, como madeira, metal e paredes. Além de deixar o ambiente mais bonito e com identidade, a intenção de Bianca foi, da mesma forma, contribuir com a sociedade e a redução de lixo, já que as coisas duram muito pouco hoje em dia. “Se a gente for pensar, tudo é muito descartável hoje, o que gera um impacto ambiental. Se meu ferro estraga, por exemplo, não é apenas o meu ferro que vai fora, mas provavelmente o ferro de todo mundo também está indo para o lixão”.

O fato que Bianca referiu-se é conhecido como obsolescência programada, uma tática de empresas que programam um tempo de vida útil de seus produtos para que durem menos, tornando-os ultrapassados em pouco tempo, incentivando, em seguida, o consumidor a comprar um novo modelo.

“As pessoas se desfazem facilmente de tudo. Mesmo que tenham uma educação ambiental formada, acabam sendo meramente espectadores e não agem para mudar isto. A restauração é uma das soluções e algo simples e fácil de ser feito. Além de resgatar a memoria de família e de época, é uma contribuição para o meio ambiente e a sociedade. Eu acredito que é.”
Bianca Faoro

A arquiteta Dani Viapiana endossa que a ideia de obsolescência programada está muito ligada ao consumidor, pois todos desejam produtos novos, assim como a publicidade e a constante produção de modelos modernos instigam o desejo de compra. Segundo a profissional, na arquitetura isto não é diferente:

“Está na hora de repensarmos um pouco sobre esta forma de agirmos em nossos projetos, reaproveitando materiais e objetos em nossas obras e decorações de casas, dando um novo uso para aquelas peças que já não teriam utilidade.” Dani Viapiana

Não seguindo a tendência do desuso, o trabalho de Bianca já inspirou e atraiu interesse de outros. Tanto que alguns amigos da advogada começaram a pedir se ela poderia restaurar alguns móveis como trabalho. “Eles começaram a olhar com outros olhos os móveis que eram dos avós” conta.

E ideias para defender a transformação do usado não faltam. “Uma mala velha pode virar mesa, um banco se transformar em um aparador, baldes podem guardar brinquedos. Basta se inspirar e colocar a criatividade em ação”, sugere Dani Viapiana.

As paredes da casa do artista Pedro Borges foram revestidas com bins, antes lixados e pintados com verniz.

Uma geladeira antiga que gastava muita energia é hoje um armário de ferramentas

Carreteis de fio de luz ou fibra ótica fazem o papel de mesas

Pedro Jair Borges, também tem o gosto pelo reúso. Ao entrar na casa do produtor gráfico já se identifica uma atmosfera característica. Em cada canto há objetos e mobílias diferentes. Artigos como ferros de passar e máquinas de costura antigas complementam a organização do ambiente. Já as paredes foram revestidas com bins, pedaços de madeira que antes eram caixas de carregar frutas. Outra inovação foi a transformação de um refrigerador antigo em um armário para guardar ferramentas. “Esta geladeira ainda funcionava, mas gastava muita luz. Então tirei o motor dela, lixei, adesivei e fiz o acabamento com verniz automotivo. Agora é a minha caixa de ferramentas”, explica.

“Qualquer um pode desenvolver uma ideia. É só fazer. É bem simples e uma alternativa barata” Pedro Borges

Na sala de visitas, um carretel de fios de luz faz o papel de mesa no ambiente. Embaixo dela foram colocadas rodinhas para auxiliar na hora da faxina. “Ela é pesada”, comenta Pedro, que ainda lixou toda a madeira do carretel, mas manteve as características originais do descarte, deixando aparecer até mesmo, um pouco da logomarca do material. Pedro acredita que qualquer pessoa pode fazer restaurações em casa.

EXEMPLO VINDO DE FAMÍLIA

A contadora Cristina Bizotto e sua mãe, Gladis, gostam muito de criar peças decorativas utilizando materiais que antes eram considerados lixo. O costume de reaproveitar e reinventar qualquer utensílio foram passados de geração para geração. “Nossa família sempre aproveitou tudo. Minha mãe e minhas tias aprenderam com minha avó e eu com elas. Todas nós fazemos artesanato”, explica Cristina.

Cadeiras, mesas e armários também foram reconfigurados. Fotos por: Cristina Bizotto

Pallets se transformaram em porta vasos de flores. Fotos por: Cristina Bizotto

“Temos uma visão diferente sobre o que seria o lixo. Gostamos de reutilizar porque é possível imaginar uma nova possibilidade de decoração e não produzir mais descarte na natureza. Também é uma forma de economia e que contribui, de maneira simples, com a sociedade.” Cristina Bizotto

Nisto, apareceu a ideia de decorarem o espaço no sítio da família. Mãe e filha pensaram em fazer algo mais rústico, reciclando muitos materiais para adaptar no ambiente. Roupeiros de madeira antigos foram pintados e hoje são utilizados como armários. Cadeiras velhas foram readaptadas e caixas de madeira se transformaram em mesas, assim como pallets em porta vasinhos de flores, estes feitos de panelas ou bules velhos. Até o pai de Cristina ajuda nas reformas quando o trabalho é mais pesado. Mesmo aquele material muito velho ou estragado é ocupado.

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