Arte em papel

Você já ouviu falar em Papercraft? Esse método é responsável por construir objetos tridimensionais, semelhante ao origami, mas que difere pelo uso de estilete ou tesoura e cola para a montagem. Conheça Alexandre, um vacariano que há mais de dez anos vem se especializando na atividade, mantendo o foco na construção de carrinhos de papel

01/08/2022 Especiais Carolina Padilha Alves Penélope Fetzner

A arte de dobrar e criar objetos com papel é antiga igual a do origami. Porém, o Papercraft surgiu mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, onde na Inglaterra diversos modelos feitos em papel se popularizaram, principalmente aviões e navios. Anos depois, com a chegada do plástico, o papel acabou caindo no esquecimento. Mas atualmente, devido a internet e a evolução das impressoras, a tendência está voltando, e a arte de criar modelos e personagens em papel criou vida novamente.

Existe uma vasta gama de opções para que os artesãos façam suas obras em papel. Os mais feitos ao redor do mundo vão de animais e todo o imaginário das HQs, até mangás e animes, bem como variados objetos, partes do corpo e tantas outras peças que se podem reproduzir. A internet disponibiliza moldes prontos das mais variadas peças, mas para aqueles que adoram o desafio de criar, existem peças de papercraft originais, únicas, desde o nível básico, até o avançado.

Especialista em Fórmula 1

Tudo começou há treze anos, quando Alexandre Sampaio assistiu Speed Racer e se encantou pelas miniaturas do filme. Ele, que já era apaixonado por carros de Fórmula 1, decidiu buscar na internet sobre o assunto, e encontrou vários vídeos de “faça você mesmo” e “faça de papel”, ou seja, tutoriais de pessoas ensinando a montar em casa as miniaturas artesanalmente. E foi aí que ficou conhecendo o Papercraft.

“Na primeira tentativa o resultado foi horrível. Eu não tinha prática nenhuma, comecei realmente sem conhecimento. Mas aí, na terceira vez, eu vi que talvez eu tinha jeito pro negócio”, relembra ele, rindo.

Diferente do Origami, que é feito apenas de dobraduras de papel, no Papercraft é preciso cortar, colar, e alguns até se habilitam a pintar as partes do que foi construído. O processo se inicia ao baixar o modelo desejado da internet, o qual pode ser impresso em folha comum de tamanho A3, mas que tenha uma gramatura mais alta para maior sustentação.

“No início eu imprimia em casa, mas agora prefiro mandar em um local especializado, para garantir a qualidade de cor. Em média, gasta-se sete folhas por carrinho que eu faço. Uns gostam de usar papel couchê, porém eu o considero mais difícil de retocar. Na finalização, passo verniz em todo ele”, explica o artesão.

Mais de uma década depois, Alexandre nos conta que já perdeu as contas de quantos carrinhos fabricou, já que tem caixas e estantes cheias deles, e que nem sempre foi só esse tipo de produto que fez.

“Essa técnica nos dá inúmeras possibilidades. Já construí muitos bonecos também, como os do Pokémon, na época em que meu filho estava viciado no desenho. Amigos meus encomendam o que gostariam que eu fizesse, e eu monto pra eles. Nunca fiz por dinheiro, é apenas um hobby mesmo, afinal de contas, não sei colocar valor no que faço somente para me desestressar”, comenta ele.

Ao indagado sobre o tempo que demora para fazer cada miniatura, ele diz que, caso você dedique umas três horas por dia para aquela atividade, em uma semana é finalizado. Ao olhar de perto os detalhes, é impressionante ver o quão pequena cada pecinha é e como os carros são feitos tal e qual os de tamanho real.

“As piores partes de manusear são o motor, retrovisor, extintor de incêndio, disco de freio, aro da roda e a borboleta de câmbio que fica atrás do volante. Algumas dessas coisas nem poderão ser vistas, já que ficam dentro do carrinho e ele não será mais desmontado. Porém, fazemos eles por completo e precisa ser idêntico ao original”, afirma ele.

É importante explicar que, até hoje, não existem ferramentas específicas para o uso de quem faz Papercraft. Alexandre ocupa utensílios de manicure, pinças e super bonder, já que não é a base d’água e seca rápido. Outro cuidado imprescindível é que as miniaturas não peguem sol, para que não desbotem e não sejam alteradas devido ao calor.

Hoje em dia, o artesão prefere fugir do óbvio, e não constrói mais carrinhos clássicos da Fórmula 1.

“No início fiz a McLaren do Senna e o carro que ele dirigia quando morreu, assim como o carro que o Piquet ganhou seu primeiro campeonato mundial. Depois disso, optei por fazer só coisas esquisitas, modelos diferentes, pilotos menos conhecidos. Caprichei ao montar todo o Grid dos anos 2000, com os carros de todas as equipes. Esses exponho com orgulho”, aponta.

Alexandre tem satisfação em ver seus dois filhos se interessando também pela atividade. Para iniciação, ele apresentou aos pequenos o Cubeecraft, que são bonecos para montar, confeccionados em forma cúbica e com diferentes moldes disponíveis gratuitamente na internet, muitos deles com temática de vídeo game, o que torna mais atrativo e fácil para ir aprendendo aos pouquinhos.

Em grupos de whatsapp com artesãos do Brasil inteiro, Alexandre troca ideias valiosas, fica por dentro das novidades e entra em contato com pessoas que fazem diferentes coisas por meio da mesma técnica. Por fim, ele opina sobre a diferença entre o seu estilo de trabalho, em contraponto com as miniaturas feitas em série, que podem ser encontradas nas prateleiras das lojas para a venda.

“Eu tenho miniaturas originais, compradas e caras, mas hoje olho para elas e vejo um negócio sem alma ali. Todo mundo pode ter uma igual, e por isso não tem nenhuma história envolvida. O manual e artesanal sempre serão diferenciados e únicos”, conclui o artista.

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