Incontáveis doutrinas estão espalhadas pelo mundo, ficando difícil elencar e entender todas elas com suas particularidades. A fé, existente na vida da maioria da população, é tratada de formas diferentes por cada ser humano e, às vezes, as instituições religiosas, suas autoridades e seguidores, cometem erros e deslizes que são comentados ao redor do globo. Para entender melhor algumas questões que giram em torno do tema, vamos falar sobre as duas religiões mais praticadas em nossa região, os escândalos que assombram cada uma e as vantagens de viver com fé
O Brasil é considerado um Estado Laico, no qual a constituição prevê a liberdade religiosa, onde cada indivíduo permite-se escolher a que melhor encaixar com seus pensamentos e filosofia de vida.
Devido a herança da colonização portuguesa, nosso país é majoritariamente católico, porém, com a vinda de outras religiões, os brasileiros hoje se dividem entre protestantes, pentecostais, espíritas, umbandistas, budistas, candomblecistas, entre tantos outros. Há também os sem religião, que podem ser ateus, deístas ou agnósticos.
Crer no invisível faz com que muitos passem por momentos difíceis de suas vidas com mais tranquilidade, apostando que uma força maior está no comando. Médicos, pesquisadores e psicólogos, apontam a diferença entre uma pessoa religiosa e uma ateia, em momentos em que a saúde está debilitada, por exemplo. A fé ajuda a suportar as dores, minimiza as preocupações e tira o sentimento de solidão, pois para quem crê, nunca ninguém está completamente sozinho.
Apesar das belezas da religião e dos pontos positivos da crença, escândalos envolvendo as instituições acabam prejudicando e decepcionando seus seguidores. Na católica, ao longo dos anos, casos de pedofilia estão vindo à tona, e uma reportagem da Revista Veja de Julho de 2019, conta em detalhes sobre jovens abusados por padres brasileiros, provocando a renúncia do Bispo Pedro Leandro Ricardo.
Já na igreja evangélica, o comércio religioso ganha as atenções da mídia, onde pastores pedem quantias abusivas de dinheiro como contribuição para seus fiéis. Em ambas, falas preconceituosas acontecem quando surgem assuntos como homossexualidade, papel da mulher e do homem na sociedade ou práticas de religiões de matriz africana, por exemplo.
Tentando entender um pouco mais sobre essas duas doutrinas, católica e evangélica, as quais são as mais praticadas em nossa cidade e região, buscamos a palavra de duas autoridades religiosas, que expõem seus pensamentos sobre fé e comentam os acontecimentos das entidades em que atuam.
A igreja Católica é monoteísta, ou seja, acredita em um único Deus, criador de todas as coisas e onipresente. A estrutura hierárquica faz com que as instituições, como paróquias e dioceses, se submetam a direção localizada no Vaticano, comandada atualmente pelo Papa Francisco, pontífice máximo entre os cristãos.
Sua doutrina defende a existência póstuma, presta culto de veneração aos santos e anjos, acredita no céu, inferno, purgatório e liga Jesus, filho de Deus, ao Espírito Santo, formando a Santíssima Trindade. A missa é o principal culto dos católicos, a qual é coordenada por um padre, e celebra-se a morte e ressurreição de Jesus Cristo, líder Judeu que salvou a humanidade. A Estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro e a Basílica de Nossa Senhora Aparecida são as maiores construções brasileiras que representam a fé dos cristãos dentro de sua religião.
Vacaria recebia, há pouco mais de um ano, O Bispo Silvio Guterres, que foi transferido para nossa cidade, e já é conhecido como uma das autoridades religiosas mais acessíveis e evoluídas que passaram por aqui. Quando indagado sobre a diminuição dos jovens dentro da igreja, o Bispo comenta:
“Quando o Brasil estava se formando, sob o regime do padroado, era obrigação ser católico, não existia alternativa. Essa notável diminuição entre as novas gerações faz parte de um processo de redefinição religiosa e do fenômeno da migração, o qual propicia que as pessoas mudem de doutrina quantas vezes elas quiserem e que, inclusive, se aproximem do ateísmo”, comenta.
Sobre os que se denominam sem religião, o Bispo explica seu ponto de vista. “Por um lado, vivemos em um mundo de pluralidade e diversidade, por outro, há uma grande confusão no fenômeno religioso, ao ponto de se atribuir a Deus uma “suposta verdade” e o contrário dela, ao mesmo tempo. Basta analisar as pregações de algumas correntes religiosas, todas falando em nome de Deus, e logo perceberemos isso. Para uma boa filosofia, a conclusão natural é que, se tudo é Deus, o nada também tem sentido. Atualmente, Porto Alegre é a capital que mais se desvinculou do aspecto religioso no Brasil e, por vezes, sinto que é muito mais fácil conversar com um ateu, do que com pessoas de determinadas religiões. Os descrentes nos desafiam, nos fazem pensar e, diante da referida confusão do fenômeno religioso, se torna realmente mais fácil você se desprender das crenças e de tudo que envolve a religião, do que se tornar fiel de alguma delas”, reflete.
Quando indagado sobre os escândalos da igreja católica, o Bispo defende a postura do atual Papa, o qual acredita que a melhor atitude é expor e trabalhar os casos que vem à tona, para assim, proteger as vítimas, dar o devido tratamento aos agressores, evitar novos casos e combater o problema.
O líder religioso ainda diz que está adorando sua estada em nossa cidade e em toda a diocese, e que pretende ficar aqui até sua renúncia, quando completar setenta e cinco anos de idade. “Vacaria, como vários outros municípios interioranos, ainda é muito espiritualizada e religiosa. É um prazer poder compartilhar a minha fé com as pessoas daqui”, finaliza Dom Silvio.
Os evangélicos, popularmente chamados de crentes, são originalmente os protestantes evangelicalistas, que hoje são divididos entre pentecostais e os neopentecostais. Os grupos com o maior número de seguidores no Brasil e igrejas mais conhecidas, entre tantas, são a Assembleia de Deus (12,3 milhões), a Congregação Cristã no Brasil (2,3 milhões), a Igreja Universal do Reino de Deus (1,8 milhão) e a Igreja do Evangelho Quadrangular (1,8 milhão).
Várias são as características que diferenciam a o evangelicalismo do catolicismo, como por exemplo, algumas nomenclaturas: a igreja, pode ser chamada de templo ou um simples edifício, sem ter caráter sagrado. A missa, aqui é chamada de culto, ministrada por um pastor, pode ser feita em auditórios ou sala de eventos. O culto é um ato de adoração a Deus, considerado mais informal e contém apenas duas partes, o louvor e o sermão. Os pastores, ao contrário dos padres, devem ser casados e respeitar o regime monogâmico.
Para os evangélicos, a bíblia, única e exclusivamente, ensina tudo que é necessário para a salvação dos pecados. A Palavra de Deus nela escrita, é considerada o padrão de comportamento que todos devem seguir, por esse motivo, os evangélicos não crêem em Santos, criação de imagens, não possuem estátuas em seus locais de culto e não veneram nada que não esteja escrito na Bíblia.
Um dos maiores problemas que assombra a religião dos protestantes, é a fama que criou-se em torno dos pastores que solicitam grandes doações de dinheiro a seus fiéis. Sobre isso, o pastor e Presidente da Assembléia de Deus em Vacaria, Paulo Juares Ignácio, dá sua opinião.
“Somos colocados num pacote onde a igreja evangélica inteira só quer o dinheiro do povo. Nós não temos a cada domingo uma festa para um padroeiro, por exemplo, onde a geração de lucro acontece com a venda de almoço, rifa, etc. Por isso, ensinamos aos nossos seguidores, que eles precisam cooperar financeiramente, para que a igreja de Deus na terra continue ativa. Não ganhamos água, luz e imóvel de graça, sem falar que, na nossa igreja, o pastor é casado, tem filhos e netos, logo, precisa prover para a família”, reflete.
Paulo nos conta que a Assembléia de Deus existe há 68 anos em nossa cidade e que ele assumiu o posto de pastor aqui, há 3 anos. Realizando trabalhos sociais como cultos nos presídios, visitas aos lares de idosos, distribuição de cestas básicas e atuação em centros de reabilitação de dependentes químicos, a igreja evangélica tem obtido grande ascensão nos últimos anos, ganhando cada vez mais fiéis espalhados por todo o mundo.
Apesar das diferenças, as religiões em geral partem do mesmo princípio: a fé é fundamento, é convicção, é crer no invisível e dele tirar forças para continuar. A fé é um presente de Deus, Allah, Oxalá, Jah, ou seja qual for o nome que ele ganha na doutrina escolhida.
64,6% dos brasileiros (cerca de 123 milhões) declaram-se católicos;
22,2% (cerca de 42,3 milhões) declaram-se protestantes (evangélicos tradicionais, pentecostais e neopentecostais);
8,0% (cerca de 15,3 milhões) declaram-se irreligiosos: ateus, agnósticos, ou deístas;
2,0% (cerca de 3,8 milhões) declaram-se espíritas;
0,7% (1,4 milhão) declaram-se as testemunhas de Jeová;
0,3% (588 mil) declaram-se seguidores do animismo afro-brasileiro como o Candomblé, o Tambor-de-mina, além da Umbanda;
1,6% (3,1 milhões) declaram-se seguidores de outras religiões, tais como: os budistas (243 mil), os judeus (107 mil), os messiânicos (103 mil), os esotéricos (74 mil), os espiritualistas (62 mil), os islâmicos (35 mil) e os hoasqueiros (35 mil).
Recentemente uma pesquisa demonstrou que 40% daqueles que dizem ser católicos, frequentam religiões espíritas.