Não vendo por nada nesse mundo

Gol CL quadrado, de 1992, é a paixão de Marcelo Baggio e seu primeiro carro. Quando perguntado se quer vender ele responde: “Você viu alguma placa de vende-se?”

01/05/2014 Inegociáveis C20 Comunicação Bruna Bueno

Em 1980, o Brasil vivia uma série de revoluções, principalmente políticas e sociais. O governo militar começava a perder força e a influência cultural americana fazia pressão direta no cotidiano dos brasileiros. Naquele ano, o mundo assistiria estarrecido ao assassinato do ex-Beatle John Lennon. Marcas hoje consagradas, como Apple, IBM e Microsoft, dariam seus primeiros grandes passos no mesmo período. Ainda, Moscou faria sua Olimpíada e aconteceria a Guerra das Malvinas, entre Inglaterra e Argentina. 
Instalada no País desde 1954, a fabricante de veículos alemã Volkswagen tinha como missão, produzir o que seu nome traduz: o carro do povo, no caso, o Fusca. A Kombi também era sucesso de vendas. Mas o mercado automobilístico brasileiro ainda tinha uma lacuna. Foi quando surgiu o Gol: robusto para os padrões da época e de plataforma resistente, que deveria ser a cara do Brasil. Idealizado desde a segunda metade dos anos 1970, o Gol teve a “base” desenvolvida (e inspirada) no primeiro Polo, projetado anos antes na Alemanha, pelo engenheiro Phillip Schmidt. Ele era diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Volkswagen Brasil. Após o lançamento oficial, em 1980, o Gol seria sucesso de vendas e mesmo montado por aqui, até hoje é comercializado em vários países. É um dos veículos da montadora mais cultuados. Segundo a Volkswagen, o carro foi batizado assim, graças à paixão dos brasileiros pelo futebol. Agora, o ano é 2009. O então estudante de Engenharia Civil Marcelo Baggio tem as dúvidas normais de qualquer jovem: seguir os estudos para uma profissão qualquer ou trabalhar com o que gosta. A segunda opção acaba prevalecendo, porque a paixão por carros o seguia desde criança. Foi quando o Gol entrou no seu caminho.

“Eu era apaixonado pelo modelo. Gostava muito da Parati, mas o Gol me remetia à adolescência, quando ajudava alguns amigos numa chapeação e vivia estudando cada parte do carro”, lembra o hoje dono da M Películas, localizada no centro de Vacaria. 


Marcelo Baggio é proprietário de um Gol CL “quadrado” 1992, 1.8. O carro, impecável, tem a maioria dos itens originais. “As únicas coisas que adaptei foram a suspensão rebaixada, farol de neblina, volante esportivo e as rodas (aro 15, do Gol Geração 5). “Já instalei películas nos vidros sete vezes, mas não ficaram legais”, conclui.
O veículo só teve três donos até hoje, incluindo Baggio. E todos cuidaram para que o Gol permanecesse o mais original possível.

“Só tiro o carro da garagem se tenho certeza que não vai chover e se o trajeto for curto. Também não levo carona atrás”, conta o empresário.

No ano passado, foram apenas mil quilômetros rodados e há três anos, o carro não é lavado da forma convencional, para evitar corrosões e outros danos. Aliás, para a produção da revista C20 fazer o ensaio fotográfico, tendo como cenário a Pedreira Vacaria, houve uma negociação acirrada. “A poeira é muito danosa e a lataria intacta é fundamental”, exigiu Baggio, antes de marcar o ensaio. Ele levou o veículo para as fotos, acompanhado pela namorada, Daniela Barp. “Já discutimos feio por causa do carro, mas não adianta: precisei me acostumar com essa paixão do Marcelo pelo Gol”, contou ela, enquanto Baggio se envolvia com a limpeza dos pneus.

“O carro tem que aparecer bonito nas fotos”, desconversou ele.


Marcelo Baggio diz que seu Gol é o chamado “CL Ging”, com acabamento de GL. Tem relógio, limpador de parabrisa traseiro, banco bi-partido atrás, vidros verdes e comando GTS carburado. Motor 95 cv, à gasolina. Quando comprou, o carro havia rodado apenas 37 mil quilômetros e hoje, tem pouco mais de 62 mil. Durante o inverno, o carro chega a passar meses protegido na garagem. “Só ligo o motor, reviso algumas peças, mas ele não sai do lugar.” Da maneira como está, o valor de mercado do Gol de Baggio pode chegar a R$ 30 mil. “Mas não vendo por nenhum valor”, informa. Ele conta que nunca levou o carro aos tradicionais encontros de amantes do Gol. “Ninguém sabe o que pode acontecer na estrada”, desabafa Baggio, completando que não tem vontade de exibir o veículo e sim, desfrutá-lo.

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