Símbolo de uma cidade inteira

Nunca é demais relembrar a história da Catedral Nossa Senhora da Oliveira, que foi marcada por muito trabalho, dedicação e fé. Sendo considerada o símbolo da nossa comunidade, a construção é visitada por pessoas de todos os cantos do país e foi declarada como bem integrante do patrimônio histórico e cultural do Estado do Rio Grande do Sul, em 2007. Através das palavras do filho de um dos construtores da igreja, vamos descobrir a passagem de João Toigo por nossa cidade, que deixou sua marca, não somente na lembrança do povo, mas literalmente nas pedras da Catedral

01/02/2021 Especiais Carolina Padilha Alves Penélope Fetzner e arquivo Vacaria Nativista

Assim como todo acontecimento antigo, muitas versões são contadas sobre a mesma história, ficando difícil afirmar que tal situação realmente aconteceu. Porém, segundo pesquisadores, a Catedral Nossa Senhora da Oliveira foi idealizada pelos frades capuchinhos e, primeiramente, ela seria apenas a igreja Matriz da cidade, já que para ser considerada Catedral precisa haver uma diocese, a qual, na época, ainda não existia.

O projeto inicial, era de uma igreja menor e de madeira, elaborado pelo engenheiro Manuel da Silveira Gusmão. Os capuchinhos, insatisfeitos com a ideia, encomendaram um novo projeto europeu de estilo gótico, feito por um engenheiro alemão, seguindo a tendência de grandes templos, como a Catedral de Notre Dame, em Paris.

Em 1900, aconteceu o lançamento da pedra fundamental, feita pelo padre Mario Deluy. Porém, apenas 12 anos depois a obra acabou saindo do papel, sob coordenação de Frei Fidélis, Frei Pacífico de Bellevaux e Padre Efrem.

Mas, voltando no tempo, o que deu origem a esta construção de valor histórico, espiritual, arquitetônico e cultural, foi o achado da padroeira do local. Conta a lenda que, durante uma queimada a imagem foi encontrada, onde hoje está o Santuário Nossa Senhora da Oliveira. Isso aconteceu em 8 de Setembro de 1750, contudo, há alguns anos atrás, a data de comemoração foi mudada para 8 de Dezembro, sendo decretado este novo dia como feriado religioso no município. A imagem original é exposta eventualmente aos fiéis e segue preservada pela diocese.

Já a escultura da santa que por muito tempo ficou exposta no topo da Catedral, foi trazida ao chão em 2010, pesando em torno de 10 mil quilos, em uma operação que durou dois dias. A imagem, que foi esculpida em Caxias do Sul, pelo Ateliê Michelangelo Zambelli, foi retirada, pois comprometia as estruturas da igreja.

Mas, para ir mais a fundo nos fatos, nada melhor do que escutar o depoimento de alguém que esteve mais pertinho dos acontecimentos. Por isso, vamos conhecer agora a fascinante história de Giovani Luigi Toigo (João Toigo), um dos construtores da Catedral Nossa Senhora da Oliveira, através das palavras de seu filho, José Severino Toigo (Zeca Toigo), em uma entrevista feita pelo grupo Vacaria Nativista, no ano de 2015.

Com as próprias mãos

Seu João, casado com Ângela Genovefa Nicoletto Toigo, conhecida como Joana Toigo, faleceu quando o filho, em questão, tinha cinco meses de idade, em 11 de janeiro de 1935. A família (mãe, filha e uma irmã) continuou em Vacaria até 1970. Tanto seu João quanto dona Joana nasceram na Itália, região do Vêneto (onde tiveram três filhas). Em 1922, vieram para o Brasil e residiram por dois anos em Antônio Prado, onde conceberam mais dois filhos. Após, vieram para Vacaria e mais sete filhos completaram a família Toigo (seu Zeca, que nos deu este depoimento, era o caçula). Dona Joana tinha 36 anos quando ficou viúva, com dez filhos vivos.

Em Vacaria, seu João Toigo construiu algumas casas e lojas para as famílias Marcantônio, Bróglio, Bueno, Giuriollo, para as irmãs da ordem de São José e para os Freis Capuchinhos. Família muito católica, assim que chegou foi acolhida pelos freis capuchinhos Pacífico, Efrem e, mais tarde, pelo frei Daniel.

Palavras de Zeca Toigo:

“Esclareço que a totalidade das informações que tenho e que dizem respeito a meu pai, foram ouvidas da minha mãe e do meu tio Pasa.

Não tenho ideia de quando meu pai foi convidado a dar continuidade à construção da igreja matriz de Vacaria, creio que foi lá pelo fim de 1925. A construção, que estava paralisada, já contava com pequena parte do alicerce de pedra. No primeiro ano de trabalho, meu pai contou com a colaboração de meu tio Pasa. Continuou trabalhando até a conclusão da obra, que foi coberta com tabuinhas que eram muito utilizadas na época. A construção foi concluída em 1931, pelo que se depreende da declaração firmada pelo Frei Pacífico de Bellevoux.

No tocante à igreja matriz, mais tarde Catedral Nossa Senhora da Oliveira, os Freis contaram ainda com a importante contribuição dos senhores Luiz Ferrazzi, exímio marceneiro (na confecção das portas de madeira, bancos e outros serviços especiais em madeira); Sr. Mario Zambelli, artífice especialista em serviços de gesso e estuque, muito utilizados nas abóbodas do templo e outros detalhes; Sr. Antônio Cremonese, artista que pintou as imagens e ladainhas do teto da igreja.

Logo após o falecimento de meu Pai, duas filhas, das italianas, foram estudar em Garibaldi num juvenato e se tornaram freiras; o filho vacariano Romano Lino seguiu para Alfredo Chaves, tornando-se o primeiro sacerdote capuchinho de Vacaria, com o nome de Frei Getúlio de Vacaria. Outras duas irmãs, mais tarde, também foram para o juvenato e tornaram-se freiras, todas da ordem de São José. Uma destas, hoje com 83 anos (estou escrevendo este relato em maio de 2015), ainda exerce funções na ordem; a outra, em 1970 pediu dispensa da ordem e casou. Tem hoje 81 anos, um filho e uma neta. Somos os últimos três ainda vivos. Os demais filhos casaram, tiveram filhos, netos e até bisnetos.

Em Vacaria, minha irmã Stela Maria teve três filhas (Nilza Carolina, Nivalda e Nilva), com Luiz Suzim. Judith Alice teve quatro filhos (Lilian, Marialva, João Augusto e Germano) com Rovídio Collato, atualmente a maioria morando em Porto Alegre. Uma ainda mora em Vacaria: Nilva. No meu caso, casei com a Ana Branco de Oliveira e tivemos quatro filhos, todos vacarianos (Giovani, Josana Cristina, Luciana e Gustavo). Hoje moramos em Porto Alegre, menos a Luciana que reside em São Leopoldo. Todos casados e temos sete netos.

Minha mãe trabalhou muito atendendo os necessitados, doentes, e acompanhou os últimos suspiros de diversas pessoas que faleceram em suas mãos. Mensalmente arrecadava alimentos para o asilo de Vacaria, isto até fins de 1970, quando nos mudamos para a capital dos gaúchos. Adoentada, ainda viveu até 1981. Por ocasião da segunda guerra mundial, minha mãe foi aconselhada a desfazer-se de diversos documentos italianos, inclusive uma porção de mapas italianos e um quadro com um diploma que nomeava meu pai como “Consiglieri” de Arten-Itália (tipo vereador no Brasil). Lembro-me desse diploma, onde aparecia uma loba amamentando “Remo e Rômulo”, símbolo de Roma. Esse diploma minha mãe não se desfez, mas para escondê-lo, colou inúmeras fotos sobre ele e, anos mais tarde, quando resolveu recuperá-lo, não foi possível. Ao retirar as fotos que o cobriam, estavam de fato coladas e todo o diploma se perdeu, mas restou o expediente que o nomeava.

São muitas as histórias de nossa vida em Vacaria, todas registradas em documento genealógico da família. O que escrevi acima é para que fique registrado que a família de Giovani Luigi passou por Vacaria, tendo deixado sua marca.” José Severino Toigo.

Tanto a Catedral, quanto o Santuário Nossa Senhora da Oliveira, são lugares que valem a pena serem visitados para que se entenda a importância que ambas as construções têm para a cidade. Linda, imponente e histórica, a Catedral é uma atração que dificilmente será esquecida pelos visitantes, sendo motivo de muito orgulho para o povo vacariano.

Santuário

Rua Doutor Flores, 495 - Centro

Catedral

R. Borges de Medeiros, 1335 - Centro

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