A vida começa quando a violência termina

Em 2015 nasceu um projeto de extrema importância para a sociedade vacariana, com o intuito de auxiliar, além da parte legal e jurídica, mulheres vítimas de violência doméstica. Conheça o Acolher, que nos seus seis anos de existência, já ajudou inúmeras cidadãs a enxergarem que pode existir vida após a agressão

01/09/2021 Especiais Carolina Padilha Alves Samara Pacheco / Áthany Lara

O Acolher é um projeto do Ministério Público do Rio Grande do Sul, no qual a promotora de justiça criminal de Vacaria, Bianca Acioly de Araújo, começou a desenvolver atividades voltadas à orientação e acompanhamento de mulheres vítimas de violência, estruturação da rede de apoio e ações voltadas à comunidade. Por meio de palestras em Vacaria e região, a promotora promoveu a conscientização em torno do tema, falando sobre os possíveis meios de prevenção, antecipação de sinais de violência, lei maria da penha, como pedir socorro, além de um tratamento diferenciado nos processos judiciais que envolvem violência doméstica.

Bianca também deu início às reuniões mensais com mulheres vítimas de agressão física e psicológica, convidando-as a participar através de cartas ou telefonemas, seguindo o cadastro existente na Delegacia da Mulher. O Acolher também encaminha as vítimas para psicólogos e pede medida protetiva, quando necessário.

Um ano depois do projeto criar vida, entra uma peça chave para que o Acolher ficasse conhecido por muito mais pessoas, ganhando visibilidade e recebendo ajuda de empresas e cidadãos de nossa cidade. Analu Silva, que hoje é formada em Design Gráfico, na época estava fazendo seu trabalho de conclusão de curso, e gostaria de usar seus conhecimentos para atuar em projetos sociais.

“Comecei a participar das reuniões e palestras, para descobrir o que eu poderia agregar no Acolher. Achei a iniciativa ótima e estava cheia de ideias, que foram aceitas pela Bianca e conseguimos aprimorar o que já vinha sendo feito”, explica Analu.

A designer começou suas atividades voluntárias, trabalhando na logomarca que já existia, aprimorando e trazendo o passarinho como um conceito de liberdade. Depois, criou cartazes com as frases das vítimas, que posteriormente foram usados em ações que aconteceram no centro da cidade.

O passo principal, e talvez mais importante que Analu deu, foi instaurar uma estrutura de serviços, baseada em aumentar a autoestima, capacitação e renda dessas mulheres vítimas de violência.

“É preciso despertá-las para o autocuidado, para resgatarem o amor próprio e enxergarem seu valor, capacitá-las profissionalmente para obterem renda e, consequentemente, ter independência financeira de seus parceiros. Notamos que momentos de confraternização, Silva lazer e alguns mimos que entregamos, como flores, chocolates e itens de cuidados pessoais, colocavam um sorriso no rosto delas, e isso fazia tudo valer a pena”, comenta Analu.

Todas as atividades que passaram a ser desenvolvidas, contavam com patrocínios e parceiros da comunidade, que se dispunham a ajudar, já que o projeto recebeu verba pública durante apenas um ano, mas não era suficiente para cobrir todas as iniciativas. “É uma pena que o setor executivo e legislativo mova poucos esforços para apoiar projetos com essa causa. Sabemos que o Acolher funciona e que é importante pelos feedbacks das vítimas, que melhoraram suas vidas em muitos sentidos depois que começamos a realizar esse trabalho. Foi preciso fazer pedágios e manter o caixa sempre ativo para conseguirmos realizar as ações”, diz a designer.

Outras atividades, eventos e ações que o Acolher desenvolveu, foram: 16 Dias de Ativismo, dinâmicas de grupo, rodas de poesia, papo sobre empoderamento com feministas, aulas de defesa pessoal, auto maquiagem, espiritualidade, yoga, meditação, sessão cinema, além dos workshops de moda, de acessórios de madeira, de anjinhas de natal, de customização de roupas, de string art, restauro, entre tantos outros.

Sabemos que, hoje em dia, as redes sociais são uma ferramenta muito poderosa para expandir o conhecimento e fazer com que iniciativas como essa ganhem visibilidade. Pensando nisso, Analu focou bastante na forma de comunicação no Instagram e Facebook do Acolher, para divulgar, engajar pessoas e convidar a comunidade para eventos.

Em 2020, Analu resolveu se candidatar a vereadora em Vacaria, e por esse motivo teve que se afastar de seu cargo no projeto.

“Essa causa é de todos nós e não apenas daquelas que sofreram violência. É preciso mostrar pra sociedade que todas as mulheres, a todo momento, estão em perigo e sofrem assédio na rua, em entrevistas de emprego, com colegas, parentes, etc. O problema é muito maior do que parece”, afirma ela.

O Acolher durante a pandemia do Coronavírus

É fato que a pandemia dificultou muito as atividades presenciais e com público externo em todos os setores. Porém, segundo a promotora Bianca, que ficou à frente do programa durante todo esse tempo, foi intensificado o atendimento por whatsapp com as vítimas e, algumas delas, foram encaminhadas para outras repartições da rede que trabalham diretamente com a violência doméstica. Atualmente o projeto conta com mais de cinco mil mulheres cadastradas, que tiveram algum procedimento envolvendo violência doméstica tramitando na promotoria de Vacaria.

Em Agosto deste ano, foram retomados os círculos de paz, obedecendo todos os protocolos de segurança do Covid-19, com grupos fechados em quatro encontros mensais, não só com vítimas de violência doméstica, mas também com vítimas de crimes.

Outra iniciativa que começou há pouco tempo, foi o grupo reflexivo para agressores, que totaliza doze encontros, utilizando a justiça restaurativa.

“Os homens envolvidos em violência contra a mulher, são encaminhados pelo poder judiciário e compulsoriamente devem participar de todas essas reuniões. Trata-se de um programa de reeducação, com perspectiva de gênero, para que não haja a reiteração de episódios de violência e para que possam tentar manter relacionamentos saudáveis com suas futuras parceiras”, expõe Bianca.

Além disso, foram desenvolvidas campanhas, como a da Máscara Roxa e o aplicativo Mete a Colher, disponibilizado para que vítimas possam pedir socorro, em casos de emergência.

Com o fim da pandemia, muito mais está por vir! Quer saber mais sobre o trabalho e a luta do Acolher? Acesse as redes sociais:

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