A vida continua

A doação de órgãos ou de tecidos é o ato pelo qual manifestamos a vontade de doar uma ou mais partes do nosso corpo para ajudar no tratamento de outros indivíduos. A conscientização da sociedade sobre a importância desse tipo de doação, é o principal objetivo dessa matéria, que propõe fazer com que as pessoas conversem com seus familiares e amigos sobre o assunto. Aproveitamos para tirar dúvidas frequentes e para contar uma história linda de um transplante renal feito entre irmãos, que tornou-se um verdadeiro caso de sucesso

01/11/2021 Especiais Carolina Padilha Alves

O primeiro transplante de órgãos que aconteceu no Brasil, foi em 1964, quando um rim foi transplantado no Rio de Janeiro. A partir daí, milhões de brasileiros puderam entrar na fila para receber órgãos e ganhar uma nova chance de vida.

Porém, mesmo sabendo a importância desse tipo de doação, muitas famílias ainda impedem que seu parente falecido doe alguma parte de seu corpo, para que seja transplantado em quem precisa. 

A pandemia agravou ainda mais a situação. Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos, ao mesmo tempo em que o número de doações caiu, a taxa de mortalidade de quem está na fila de espera aumentou de 10% a 30%. Enquanto isso, mais de 43 mil brasileiros encontram-se na fila para serem transplantados, e é por esse motivo que o assunto se faz tão importante.

Vamos tirar algumas dúvidas frequentes, baseado em informações da Agência Brasil e da plataforma da Pfizer, que alertam para a necessidade de termos cada vez mais pessoas dispostas a doar seus órgãos, tanto antes, como depois do falecimento.

Doação por indivíduo vivo: este pode doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou ainda parte da medula óssea. Pela legislação, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Aqueles que não são parentes só podem fazer a doação com autorização judicial;

Doação por indivíduo falecido: são dois os tipos de doadores, o primeiro é o doador falecido após morte cerebral, constatada segundo critérios definidos pela legislação e que não tenha sofrido parada cardiorrespiratória. Neste caso, ele pode doar coração, pulmões, fígado, pâncreas, intestino, rins, córnea, vasos, pele, ossos e tendões. O segundo tipo é o doador que teve parada cardiorrespiratória, ou seja, o coração parou de bater. Este doador pode doar apenas tecidos para transplante: córnea, vasos, pele, ossos e tendões. Em ambos os casos, a morte encefálica precisa ser confirmada;

Quando a morte ocorre em casa: nesse caso, somente as córneas poderão ser doadas. A declaração de óbito deve ser providenciada, e a intenção de doar deve ser feita de forma imediata à Central Estadual de Transplantes;

Como se declarar um doador? O Ministério da Saúde orienta que o interessado converse com sua família sobre o desejo de ser doador e deixe claro para que seus familiares autorizem a doação de órgãos após sua morte. No Brasil, a doação de órgãos só será feita depois da autorização da família. Para ser um doador em vida, você também pode obter o cartão de doador, que vamos explicar sobre adiante;

Quem não pode doar órgãos? 

  • Pessoas que não tenham documentação, indigentes ou menores de 18 anos sem a autorização dos responsáveis;

  • Portadores de doenças infectocontagiosas, como soropositivos ao HIV, hepatites B e C, Doença de Chagas, entre outras;

  • Pessoas com doenças degenerativas crônicas ou tumores malignos;

  • Pacientes em coma ou que tenham sepse ou insuficiência de múltiplos órgãos e sistemas (IMOS).

Há custos? Não há custo para a família do doador de órgãos, assim como não há qualquer pagamento;

Sistema Nacional de Transplantes

Na doação em vida, é possível escolher o receptor dos órgãos. Já para a doação após a morte, nem o doador nem a família podem escolher quem vai receber o órgão. O receptor será então o próximo da lista única de espera de cada órgão ou tecido, definida pela Central de Transplantes da Secretaria de Saúde de cada estado e controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). A posição na lista é determinada por critérios como tempo de espera e urgência do procedimento. Para determinar a compatibilidade entre doador e receptores, são feitos exames laboratoriais.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br e pfizer.com.br

Você já conhece o ADOTE?

A Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos (ADOTE) é uma organização gaúcha, existente desde 1998, sem fins lucrativos, e que tem como objetivo a conscientização da importância da doação de órgãos e tecidos. Para isso, ela conta com uma equipe de voluntários que se ocupa de diversas ferramentas para o trabalho, como: campanhas de esclarecimento público, artigos para veículos de comunicação, livros, materiais gráficos como folhetos e adesivos, palestras e mesas redondas, além de participar em fóruns de políticas públicas.

Por meio da Adote você pode tornar-se um doador, acessando o site, fazendo seu cadastro e download do cartão de doador. Basta acessar o endereço www.adote.org.br. Lá você também pode tirar outras dúvidas e fazer uma colaboração financeira voluntária para dar continuação a esse projeto tão importante.

Uma nova chance

Não é exatamente a história de um casal, mas ainda assim, o que vamos contar a seguir é uma história de amor. Brás Lorenzetti e Lúcia Lorenzetti são irmãos que, além do sangue, são unidos por outra parte do corpo também: um rim.

Ele tem a profissão de padre, e saiu do Rio Grande do Sul em 1976, para continuar seus estudos. Passando por Rio Claro, Campinas e Curitiba, depois de formado, Brás foi trabalhar no Mato Grosso, e foi nessa época que começou a ter alguns sintomas como: pressão arterial alta, dor na nuca e diminuição da resistência no esporte.

“Descobri que já estava com insuficiência renal e que o processo era irreversível. Não foi a melhor coisa do mundo, mas conversei com a família para saber se alguém com o mesmo tipo de sangue se dispunha a ser doador. Meu outro irmão, Pedro, fez exames, mas não foi aprovado. Foi então que Lúcia se prontificou, deixou seu emprego na prefeitura e foi para São Paulo enfrentar comigo o processo. Ela foi muito corajosa porque alguns exames são invasivos, mas em nenhum momento ela desistiu. Ela mostrou muito equilíbrio humano e psicológico”, diz Brás.

O passo a passo para efetuar um transplante de órgãos não é nada fácil. Lúcia nos conta que ficou seis meses em São Paulo fazendo exames e passando por avaliação psicológica. A operação foi realizada no dia 30 de janeiro de 1996, na Santa Casa de Misericórdia. Após a cirurgia, ainda foi necessário mais de um mês em observação para ver como o rim ia se comportar no corpo de Brás, e como o organismo de Lúcia ia reagir.

“Deixei minha filha mais velha aos cuidados de minha mãe, em um tempo onde as notícias eram enviadas apenas por carta, ou, para quem tinha o luxo do telefone fixo. Apesar de todo o nervosismo, acabou tudo bem, e anos depois eu tive outra gravidez de sucesso, com apenas um rim”, comenta a doadora.

Brás nos explica que o sentimento pós transplante foi de muita gratidão. A reação logo no primeiro encontro depois da cirurgia foi um choro de alegria. Isso se entende porque o transplantado fica imunodeprimido e a emoção fica à flor da pele. Durante o tempo de transplantado, os exames devem acontecer a cada três meses. O médico que acompanha vai indicando a medicação, que tem como principal objetivo evitar a rejeição. 

Meses depois, ele passou a assumir trabalhos e atividades normais, além de fazer outros cursos de aperfeiçoamento, viajar por vários países e assumir cargos de direção, como no Editorial Ave Maria e no Claretiano Faculdade e Colégio. Ainda conseguiu formar-se na Faculdade de Letras e no Curso de Especialização em Gestão Universitária, além de Filosofia e Teologia.

Mas a surpresa dessa história toda nem está na cirurgia em si, mas sim, no tempo estimado pelos médicos para que fossem necessários outros procedimentos. Normalmente, um transplante de rim dura de dez a quinze anos, mas o de Brás durou vinte e cinco!

“Um verdadeiro sucesso. Na época eu tinha quarenta anos e agora, com sessenta e cinco, é que comecei a encontrar dificuldades novamente. Por isso, atualmente faço hemodiálise, que acontece três vezes por semana, enquanto fico na espera de um novo transplante”, explica ele.

Brás, que ainda reside em São Paulo, costuma vir para nossa cidade todo ano, para visitar sua irmã e realizar missas nas igrejas do Cristal e da Nossa Senhora de Fátima. Devido à pandemia, esse tempo acabou se espaçando, mas promete vir assim que as coisas voltarem ao normal.

“A gratidão continua pelo gesto da Lucia. Ajudo a família dela no que eu posso, mas nunca vou conseguir pagar tanta generosidade”, afirma. 

Sem dúvida, podemos dizer que, para aquele que doa, a vida continua sem grandes interferências. Mas para aquele que recebe, a vida renasce, outra chance acontece e novas oportunidades se fazem todos os dias. 

Por fim, Lúcia deixa seu recado.

“Quando eu falecer, quero continuar sendo doadora. Só de pensar que alguém está vivendo por minha causa, carregando um pedaço meu, já é o suficiente para me fazer feliz. A doação de órgãos é a sua vida que continua em outra pessoa e isto, nada mais é, do que partilhar a existência”, conclui, emocionada.

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