Beleza GG

Os padrões inalcançáveis que a sociedade impõe sobre o corpo das pessoas, especialmente das mulheres, são quebrados todos os dias com o crescimento do mercado plus size, da representatividade que notamos na TV e com as influenciadoras que cuidam da autoestima de suas seguidoras. Nessa matéria, vamos falar sobre o preconceito e dificuldades que enfrentam aqueles que estão acima do peso, mas também do aumento de possibilidades para esse público, além de conhecer uma digital influencer vacariana que defende o empoderamento feminino e aposta na moda plus como fonte de renda

01/12/2021 Especiais Carolina Padilha Alves

A verdade é que o mercado da moda plus demorou muito para acordar. Mais da metade da população brasileira (60,3%) tem sobrepeso, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, feita pelo IBGE, em 2020. Nota-se que existem cada vez mais modelos, lojas e profissionais trabalhando em função desse nicho que, finalmente, foi enxergado pelo mundo fashion.

Marcas internacionais famosas (Versace, Calvin Klein, Dolce & Gabbana, entre outras) já estão ampliando as suas numerações e colocando modelos plus em seus desfiles, como Fluvia Lacerda e Ashley Graham.

Na literatura, temos livros como “Gorda não é palavrão” e “Pare de se odiar”, feito por escritoras brasileiras, que contam suas experiências e empoderam aquelas que têm o mesmo biotipo ou passam pelas mesmas experiências.

O segmento como um todo está se adaptando e entendendo que não existe ser humano padronizado, e que somos uma soma de características e hábitos diferentes um do outro. Felizmente, a discriminação contra corpos grandes tem sido reconhecida como um comportamento feio e vergonhoso, e movimentos como Corpo Livre, vem para mostrar o quão fútil e sem sentido é a tentativa de igualar as pessoas.

É importante lembrar que enaltecer as curvas e o potencial existente em gordos, não é romantizar a obesidade, mas sim, entender que a beleza não está na balança. E pensando nisso, trazemos o depoimento de uma digital influencer que foi descoberta por uma fotógrafa e hoje tem seu sustento tirado de seu trabalho com a internet e de sua loja especializada em roupas e acessórios para o público plus size.

Bonita de rosto e de corpo

Michele Rosário hoje faz parte do Body Positive, que é um movimento que preza pela aceitação do corpo sem a necessidade de se enquadrar em um padrão. Com mais de 36 mil seguidores em suas redes sociais, ela ajuda principalmente mulheres gordas a se amarem do jeito que são.

Mas sua relação com seu corpo nem sempre foi tão boa assim. Na infância, ela era a gordinha da escola, e desenvolveu uma característica violenta para se defender dos ataques que sofria.

“A minha forma de defesa, era o ataque. Portanto, quando alguém falava alguma coisa, eu partia para agressões físicas. Por isso muitos pararam de mexer comigo. Porém, esse fator violento na minha personalidade me fazia muito mal e refletiu lá na frente, nas minhas relações”, relembra ela.

Na adolescência, Michele teve relacionamentos abusivos, nos quais a dependência afetiva, a falta de autoestima e amor próprio, a fizeram aceitar muita coisa errada vindo de seu companheiro.

“Ele sempre me disse que ninguém ia querer uma gorda como eu, que eu tinha que aceitar aquelas condições de vida por que somente ele iria me assumir, entre outras coisas absurdas”, comenta.

Como a maioria das meninas acima do peso, Michele recebia muitos palpites de familiares, amigos, conhecidos, todos fazendo a mesma pergunta: mas tu tem um rosto tão bonito, por que não emagrece? E foi assim que ela parou de comer e iniciou a academia, perdendo 30 quilos em pouco tempo. As consequências dessa decisão foram o desenvolvimento de distúrbios alimentares e bulimia, já que Michele vomitava quando comia algo mais pesado, para evitar de engordar.

“Nessa fase, sabe o que eu descobri? Mesmo perdendo todos aqueles quilos eu continuava grande e fora do padrão. Meu manequim veio para o 42/44, o que ainda é considerado plus para a sociedade. É preciso entender os diferentes formatos de corpo e estrutura óssea, para ter a comprovação que nem todos nascemos para ser magros”, enfatiza.

Michele acabou ganhando peso novamente e, na época, estava trabalhando com vigilância patrimonial, quando a virada de chave aconteceu. Ela foi convidada para participar de um projeto chamado Mostre Suas Curvas, feito pela fotógrafa Néia Domingos, aqui em Vacaria. Esse projeto consistia em fotografar mulheres reais, mães que tiveram sua estrutura alterada pela gravidez, com celulites, estrias, cicatrizes e curvas, em prol do empoderamento feminino.

“Quando as fotos foram postadas na internet, várias páginas começaram a repostar e quando eu vi estava com 10 mil seguidores, da noite pro dia. Foi então que eu descobri que talvez eu teria potencial para trabalhar com a minha imagem, mesmo sem ter corpo de modelo”, explica.

Influencer e empreendedora

A partir desse momento, convites, oportunidades e ideias começaram a aparecer. Michele fez provador para várias lojas de nossa cidade que tem um setor dedicado ao plus size, como a Linda Modas, por exemplo.

Mantendo esse contato mais direto com o mundo da moda, a influencer notou que o nicho de mercado para o plus ainda era muito pequeno em nossa região, e por isso decidiu abrir sua própria loja, fazendo uso das suas redes sociais para fazer a divulgação.

“Ainda não tenho espaço físico e atendo dentro da minha casa mesmo. Trago tudo de São Paulo e do Rio de Janeiro, peças com preços justos e itens dificílimos de serem encontrados para as gordas, como cintos, lingerie e moda praia. Trabalho do slim até o tamanho 60 e procuro trazer peças coloridas, diferentes, com bom recorte, acinturadas, para sair daquela ideia que meninas grandes devem usar sempre preto”, afirma.

Com apenas 26 anos, Michele dá aula de autoestima, é vaidosa e não deixa de usar nenhuma peça de roupa que gosta, em função dos olhares ou comentários que ainda recebe ao sair da rua. Ela continua com dificuldade de acessibilidade em locais como assento de avião inadequado e catraca de ônibus pequena demais, e é por isso que promete manter sua luta por melhores condições e menos preconceito com pessoas gordas.

“Quem me segue sabe que eu não romantizo a gordura ou a obesidade, mas apenas peço para que respeitem os corpos diferentes. É importante não dar platéia para quem posta uma vida perfeita no Instagram, ou que incentiva cirurgias plásticas, muitas vezes, prejudiciais para as pessoas. Isso causa depressão, ansiedade e traz gatilhos para muitos. Vamos focar na representatividade que estamos conseguindo ter nas redes sociais, pois nesse sentido, o advento da internet veio para nos ajudar”, conclui ela.

@myh_rosario

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