O alcoolismo é uma doença crônica, progressiva e fatal, que não escolhe classe social e é o responsável pela destruição de inúmeras famílias ao redor do mundo. Por isso, vamos esclarecer algumas dúvidas sobre o assunto, além de trazer depoimentos de pessoas que sofreram com essa realidade e mostrar o trabalho dos Alcoólicos Anônimos em nossa cidade
O álcool, parceiro de festas e momentos alegres, responsável por fazer a timidez ir embora e possuir um gosto único, para algumas pessoas torna-se o vilão sutil, traiçoeiro e enganador, levando a um caminho sem volta.
Muitos ainda tratam o alcoolismo como um vício, porém, segundo a Organização Mundial de saúde, ele é a doença daquele incapaz de controlar a ingestão de álcool devido a dependência física e/ou emocional.
Para o alcoólico, um copo de cerveja é muito, e um barril é pouco.
“Na maioria dos diagnósticos de pacientes dependentes químicos ou de álcool, é notável que ali existe um vazio existencial que eles tentam preencher. E, infelizmente, eles buscam esse preenchimento e a solução de seus problemas dentro do copo”, afirma a psicóloga Neiva Pacheco, que há 38 anos palestra nos encontros de Alcoólicos Anônimos de Vacaria.
O impacto do álcool em excesso, é o desencadeamento de diversas doenças e sintomas, como gastrites e úlceras, cirrose, pancreatite, pressão alta, AVC, entre tantos outros. As relações sociais também são extremamente prejudicadas, deixando o alcoólico irritado, com crises de ansiedade e, na maioria das vezes, violento, ficando difícil comparecer a um simples almoço de família sem que aquele momento torne-se constrangedor.
O tratamento dessa doença, acontece por meio de desintoxicação em clínicas e com acompanhamento profissional, ingestão de medicamentos para diminuir a vontade incontrolável de beber e, também, através de aconselhamento individual ou em grupo. E aí entra o trabalho dos Alcoólicos Anônimos, grupo conhecido mundialmente por recuperar alcoólicos e atender suas famílias.
O Alcoólicos Anônimos surgiu em 1935, criado pelos americanos Bill W. e Dr. Bob S., e hoje em dia está espalhado por aproximadamente 180 países, sendo uma irmandade de homens e mulheres que compartilham entre si o mesmo vício. Nos encontros semanais propostos pelos organizadores de cada cidade, todos expõem suas experiências, para assim alcançar e manter a sobriedade juntos.
O único requisito para tornar-se membro é o desejo de parar de beber. O A.A. não cobra taxas ou mensalidades, não está ligado a nenhuma religião, seita, instituição, ou tão pouco envolve-se em assuntos políticos.
A questão do anonimato, que dá nome ao grupo, nos lembra da necessidade de colocar os princípios acima das personalidades. O foco não está em quem é a pessoa, mas na luta que ela está enfrentando e que é igual a de todos os demais que ali se encontram. O preconceito social referente ao alcoolismo, fez com que os primeiros membros do A.A. entendessem que era de suma importância garantir a confidencialidade dos alcoólicos, se quisessem atrair e ajudar cada vez mais dependentes.
Em Vacaria, o Grupo dos Pampas está completando 43 anos de atividade em 2019, já tendo recuperado inúmeros alcoólicos, os quais, em sua maioria, ainda frequentam as reuniões ou estão na coordenação do mesmo. Nesses anos de história, muitas parcerias foram feitas, como com o Al-Anon, outro programa que também atende alcoólicos, e o Amor Exigente.
Todos eles juntos, enriquecem as reuniões semanais, trazendo palestras e atividades interessantes para o grupo, além da participação de profissionais locais da área da psicologia e medicina que, de forma voluntária, falam sobre os efeitos do álcool e das drogas no organismo humano.
Em 2020, haverá em Belo Horizonte, o encontro nacional de Alcoólicos Anônimos, onde os grupos do país inteiro são convidados a celebrar os seus dias, meses, ou anos de sobriedade. O Grupo dos Pampas estará presente no evento.
Dificilmente alguém fracassa tendo seguido rigorosamente os doze passos que compõem o programa de recuperação implantado pelos Alcoólicos Anônimos. É importante lembrar que o grupo também atende os familiares do alcoólico, dando toda assistência necessária para saber como lidar com a doença. Porém, se o portador do alcoolismo não se entregar por completo, a certeza da recaída é inevitável.
1- Admitimos que éramos impotentes perante ao álcool - que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas;
2 - Viemos a acreditar que um Poder Superior a nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade;
3 - Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que O concebíamos;
4 - Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos;
5 - Admitimos perante a Deus, perante nós mesmos e perante a outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas;
6 - Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter;
7 - Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições;
8 - Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados;
9 - Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem;
10 - Continuamos fazendo o inventário pessoal e quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente;
11 - Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade e relação a nós, e forças para realizar essa vontade;
12 - Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos, procuramos transmitir esta mensagem ao alcoólicos e praticar esses princípios em todas as nossas atividades.
Grupo dos Pampas
Rua Borges de Medeiros, 1800 - Vacaria/RS
Centro Médico Municipal
Reuniões terças e sextas-feiras, sempre às 20hrs, abertas à comunidade.
“A convivência com um alcoólatra não é fácil. Tinha a sensação que aquele copo de cerveja ou aquela taça de vinho diariamente eram inocentes, até que as quantidades aumentaram e as coisas mudaram. A rotina torna-se faltar ao trabalho, dormir até mais tarde, ficar brabo com facilidade. Começaram também piadas sem graça, gritos desnecessários. até chegar no pior ponto, a agressão. Ficar em casa era uma luta diária, ainda mais com um irmão pequeno. Além de já querer evitar qualquer atrito entre meus pais, eu sentia que precisava proteger ele mais que tudo. Meu irmão nunca sofreu nenhuma agressão física mas, presenciou coisas que nenhuma criança deveria. Não é bom ver o quão violento teu pai pode se tornar, não é bom ver ele pegar uma arma, não é bom ver ele sair de carro dizendo que quer se matar. Essas coisas traumatizam, você se sente sufocado, parece que aquilo nunca vai acabar, até você conseguir arrastar o alcoólatra para o médico. Quando ele olha pro dependente e diz "mais um gole de álcool e você morre", assusta qualquer um e, às vezes, é só assim que a pessoa entende a gravidade da situação. Era cirrose. Da cadeira do médico direto para a cama do hospital, para o soro, para a fila de transplante de fígado e para uma nova rotina. O susto foi grande, não vamos esquecer o que passamos, tivemos que lutar muito. Ele melhorou tanto que não foi preciso o transplante. Conseguimos vencer. Hoje a vida é outra. Nunca mais ele bebeu, nunca mais ele foi agressivo, tornou-se uma das pessoas que eu mais tenho orgulho mas, sabemos que não precisava ter sido por esse caminho tão duro”. Filha de alcoólico em abstinência contínua há sete anos.
“Antes de começar a frequentar o A.A., eu enfrentei muitos problemas familiares e só tenho agradecimentos à minha esposa, por ter me aguentado no pior momento da minha vida e por ter me levado na minha primeira reunião. Quando cheguei lá, eu era extremamente arrogante e prepotente e não me considerava tão bêbado quanto os outros que ali estavam procurando ajuda. Fui relutante, briguei, disse que jamais voltaria naquele lugar e nem me misturaria com aquelas pessoas. Mas graças a Deus me convenci de que estava acabando com a minha vida e com a vida dos que me amavam, e que os famosos amigos de copo, de amigos, não tinham nada. Resumo da minha caminhada: estou há vinte e dois anos em abstinência contínua e hoje sou membro do Alcoólicos Anônimos com muito orgulho. Concluí, com esses anos de envolvimento na causa, que no alcoolismo a história é sempre a mesma, o que muda são os personagens. Cabe a cada um de nós, com qualquer que seja o vício, se manter firme na decisão de mudar de vida”. Alcoólico em abstinência contínua há 22 anos e membro do Grupos dos Pampas.