A história de Rafael Ferreira, letrista e poeta premiado, que exalta em suas obras a cultura gaúcha
Desde criança, Rafael Ferreira escuta música regional e, embora não tenha nascido no campo, se criou tendo esse contato com a natureza, na propriedade de seus padrinhos em Muitos Capões.
“Recordo muitas descobertas que tive por lá, rememoro imagens do campo nativo, da criação extensiva de gado, das tropeadas, castração a pealo, cavalos bem encilhados e de uma vida simples, mas de muita beleza”, relembra ele.
E foi com essas imagens guardadas na memória que começou a rabiscar uns versos por volta dos quinze anos de idade. A primeira letra destinada para música foi dois anos depois, intitulada “Milonga das Batalhas”, com a qual concorreu ao Festival Baqueria de Los Pinares, em 2007, levando para casa o prêmio de música mais popular.
“Sou muito grato a essa oportunidade, pois foi um ponto de partida para essa estrada da escrita e da música. Recordo dessa edição com muita emoção e lembro de detalhes como se fosse hoje, a nossa turma de guris, descobrindo um mundo novo, no qual só éramos espectadores. Contei com a melodia dos amigos Vinícius Boechel e Jamesson Abreu, e no palco Thiago Carlotto (violão) e Tiago Boechel (contrabaixo) a defenderam. Foi muito bonito o carinho do público, a torcida organizada de família e amigos que sempre estiveram ao meu lado, acolhedores, apoiadores e orgulhosos”, diz Rafael.
Quando o letrista foi morar em Lages, para cursar Medicina Veterinária, área na qual se formou e atua até hoje, acabou conhecendo muita gente, colaborando com novos artistas e ganhando uma projeção regional, sendo reconhecido fora de nosso Estado. Hoje, o vacariano tem letras nos CD’s e vozes de grandes intérpretes gaúchos, como por exemplo: Ricardo Bergha, Quarteto Coração de Potro, Marcelo Oliveira, Arthur Mattos, Raineri Sphor, André Teixeira, Jari Terres, Leonel Gomes, Jairo Lambari Fernandes, Adriano Posai, Jamesson Abreu, Lorenzo Lavoratti, Luidi Moro Muller, Trinnca, César Oliveira e Rogério Melo, Joca Martins, Juliana Spanevello, Robledo Martins, Juliano Moreno, entre outros.
Com um assunto tão vasto quanto a cultura gaúcha, indagamos o escritor sobre como funciona seu trabalho de pesquisa e assim ele nos explica.
“Além de buscar nas literaturas do regionalismo e literatura em geral, uma pesquisa que sempre gostei de fazer é a conversa com os mais antigos, com pessoas de vivência campeira, já que neles existe tanta essência, tanta história, tanta aventura”, comenta.
Rafael conta que sua linha de escrita costumeira é a campeira, ou campeira/romântica, mas também defende que a poesia depende muito de como está o estado de espírito daquele que escreve. Sua maior influência neste meio é, sem dúvida, o grande Jayme Caetano Braun, renomado pajador prestigiado também na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.
Entre tantas conquistas importantes em sua caminhada, Rafael destaca o 1º lugar no Baqueria de Los Pinares, 3º lugar na Sapecada da Canção, além de ser o responsável pela letra da música oficial do Rodeio Internacional de Vacaria de 2020, e a música Cantilena, com clipe gravado pelo Quarteto Coração de Potro, que já tem mais de 1 milhão de visualizações no Youtube.
“Meu mais recente prêmio foi com o poema “Da Esperança aos Malacara”, onde, em meio a outros trezentos poemas, ganhei 1º lugar no Bivaque, um festival com trinta anos de existência”, diz, orgulhoso.
Para concluir, Rafael declara que ainda pretende lançar um livro com suas poesias e também realizar um trabalho fonográfico. Com tanto material e uma bagagem extensa, o poeta afirma sentir-se realizado executando essa atividade que faz tão bem para o coração e a alma.
“Na música regional, vive a essência de um povo, com detalhes que são tão ricos e tão nossos, onde muitos de fora que nos ouvem não compreendem. Ali existe a singeleza, o romance genuíno, a arte crioula e campeira no seu íntimo estado de ser, com linguagem peculiar, saberes antigos e uma geografia tão vasta. Eu creio nesta crença, de incentivar quem quer que seja a perpetuar nossa arte, pois ali permanece as nossas origens. Um passado que é cantado hoje, jamais se perderá amanhã”, finaliza ele.