Especial Inegociável de Halloween

No mês de Outubro comemoramos o Halloween, festa que se popularizou nos Estados Unidos e que é conhecida por seu tema sinistro, que celebra espíritos, bruxas e alguns seres lúdicos. Aproveitamos a data para apresentar uma pessoa que tem tudo a ver com isso! Conheçam Marcelo D’Avila, coveiro há vinte anos, e que possui histórias incríveis de sua vivência nesse tipo de trabalho, além de nos mostrar o seu triciclo Atman Falcon 01, considerado Inegociável

01/10/2021 Especiais Carolina Padilha Alves Penélope Fetzner

O Halloween, também conhecido como Dia das Bruxas, é comemorado anualmente no dia 31 de Outubro. Como sabemos, o tema da festa é sombrio, e sua origem se deu com o povo celta, há mais de três mil anos atrás, o qual acreditava que nesse dia os mortos se levantavam e se apoderavam dos corpos dos vivos. As fantasias e os artefatos macabros eram usados como forma de defesa desses maus espíritos.

Os Estados Unidos foram os responsáveis por popularizar a festa, tornando-se uma tradição muito forte no país, fazendo girar milhões nessa época do ano. Pessoas de todas as idades se fantasiam e saem às ruas, que são decoradas com bruxas, caveiras, múmias, vampiros, fantasmas, etc.

E é nesse clima de Halloween, que aproveitamos para contar a história de um profissional que tem tudo a ver com a data, já que seu local de trabalho é no cemitério e sua função é enterrar os mortos. O coveiro Marcelo D’Avila divide com a gente o seu dia a dia, além de nos mostrar o seu triciclo Inegociável.

Especialidade: sepultamento

Hoje vamos contar a história de uma profissão pouco valorizada, mas que a maioria da população utiliza desse serviço em seus últimos momentos de vida terrena.

Marcelo Dávila é coveiro e trabalha há mais de vinte anos no Cemitério Municipal Santa Clara, onde seu pai também trabalhou por muitos anos. Agora, Marcelo conta com a companhia de seu filho, que o acompanha no serviço, marcando três gerações que ficam à disposição dos vacarianos, 24 horas por dia, participando de um momento de dor e sofrimento para as famílias. Mas como toda profissão, essa também lhe trouxe muito aprendizado.

“Eu era uma pessoa que vivia sempre de planejamento, deixava tudo pra depois. Quando comecei a trabalhar aqui, entendi que o amanhã é desconhecido, que eu preciso viver o hoje e não ficar postergando. Por isso, não existe mais longo prazo na minha vida, tento sempre fazer o máximo de coisas que consigo todos os dias”, revela.

Seu ofício engloba muitos outros serviços além de enterrar corpos. Ele também se tornou responsável pela limpeza do cemitério e passou por situações desagradáveis, como por exemplo, quando vândalos entraram de madrugada, quebrando túmulos, espalhando ossos e pedaços de caixão, que no outro dia são recolhidos por Marcelo e colocados no lugar. “Como eu moro bem próximo ao cemitério, já aconteceu de ouvir barulhos suspeitos de madrugada e eu sair correndo da cama para ir averiguar, tentando evitar que destruíssem novamente o meu trabalho. Cheguei a fazer a segurança do cemitério por conta própria durante um tempo, mas aí notei que minha saúde estava sendo prejudicada por aquilo e desisti”, relembra.

Em outra ocasião, o coveiro nos conta que ajudou a abrir o corpo de uma menina que estava enterrada há meses, para investigação da polícia, já que havia a possibilidade dela ter sido envenenada, afetando na pena estipulada para o assassino.

“São coisas que quem tem um pouco de nojo, não consegue enfrentar. O cheiro de cadáver é muito forte, mas quando é preciso abrir e tirar os órgãos para as entidades competentes investigarem, é muito pior. Porém, estou acostumado e faço sempre o que for preciso no meu trabalho”, declara.

Na pandemia, os serviços de Marcelo nunca foram tão solicitados. Ele confessa que quando tudo começou e as notícias do Coronavírus vieram à tona, ele achou que era bobagem e muito sensacionalismo. Contudo, quando viu falecer até cinco pessoas da mesma família, na mesma semana, ele entendeu que não era brincadeira.

“Enterrei gente que eu jamais pensei que iria morrer antes de mim. Jovens com um futuro pela frente, que se foram por causa dessa doença. Passei meses intensos, acabei ficando assustado com a situação e caí na real do que estava acontecendo no mundo”, afirma.

Definitivamente, o emprego de Marcelo não é para qualquer um. O fato é que, independente de ser rico ou pobre, branco ou preto, ou qualquer outra diferença da nossa sociedade, todos vão acabar nas mãos de um coveiro (ou, pelo menos, todos aqueles que não optarem pela cremação).

Marcelo traz consigo a força de quem lida com a finitude da vida de uma forma leve, divertida e extremamente competente.

A máquina de três rodas

O coveiro vinha num quadro depressivo muito grande no ano de 2013. Foi quando em uma das consultas médicas, o doutor o pediu para que procurasse algo que ele gostasse de fazer, um hobby, uma distração, um divertimento, já que a vida de Marcelo se resumia em trabalho. Porém, as atividades mais corriqueiras como jogar bola, andar a cavalo ou ir à academia, não faziam a cabeça do paciente, ele recordou-se de uma paixão de adolescência: os triciclos.

Essa máquina de três rodas e muita imponência, sempre atraiu Marcelo, desde muito novo. Até que em 2014, decidiu começar a montar seu primeiro triciclo, quando encontrou um pessoal na internet que faria bem do jeito que ele imaginou.

“Comecei a viajar com ele sempre que tinha uma folguinha. Costumava sair sem rumo e sem hora, apenas para aproveitar a estrada e conhecer novos lugares”, comenta.

Depois de um tempo, propostas surgiram e ele acabou vendendo o triciclo para comprar um outro. Este segundo acabou caindo nas graças de um conhecido, que se apaixonou pelo veículo e também foi vendido. “Nesse momento, minha depressão voltou. Não tinha mais minha válvula de escape, minhas viagens e nenhuma diversão. Então, decidi começar do zero e montar meu terceiro e último triciclo, e deste jamais me desfaria”, prometeu ele.

Marcelo montou seu Atman Falcon 01, com motor de Golf 2.0, escolhendo as cores preto e vermelho para a composição, além de um som potente e outros acessórios, com capacidade para dois passageiros. O nome do triciclo? Por motivos óbvios, Marcelo o batizou de Coveiro.

“Estabilidade é a primeira coisa que as pessoas questionam. Mas posso afirmar que ele é que nem um carro, já botei 190 km/h na estrada e ele faz curva a 100 km/h ou 120 km/h. É um espetáculo! O único fator é que é pesado para guiar, tem que se adaptar”, explica.

Marcelo conta que seu triciclo é todo documentado, tem seguro e que possui carteira de moto, já que é essa a habilitação necessária para poder conduzir o veículo de três rodas. Como todo dono de raridades e pessoas que gostam do mercado automobilístico, Marcelo possui uma ligação espiritual com seu parceiro de passeios, o qual o ajudou a superar momentos difíceis de sua jornada.

“Se hoje estou bem de saúde, eu devo muito a ele. Saio de casa, olho na garagem e me acalmo em saber que o triciclo está lá e que a qualquer momento posso sair viajar de novo. Cada viagem que eu vou fazer, entro no cemitério e peço permissão pra quem agora reside aqui, afinal, dedico minha vida a esses corpos no momento final de sua existência na terra e por isso sei que os espíritos de quem enterrei, me protegem”, conclui Marcelo.

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