Formando cidadãos por meio do futebol

Há onze anos, o Grêmio Esportivo Glória mantém um projeto em nossa cidade que, atualmente, atende mais de duzentas crianças e jovens, os quais aprendem muito mais do que jogar futebol. Eles são ensinados a ter disciplina, a socializar, ter responsabilidade e acreditar que o futuro no esporte pode ser promissor

01/09/2022 Especiais Carolina Padilha Alves Penélope Fetzner

Renato Tilão é o responsável por trazer para Vacaria a possibilidade de ensinar crianças, adolescentes e jovens, a arte de jogar futebol. Ele, que começou no esporte aos dez anos de idade, em uma escolinha de futebol em São Paulo, acabou se destacando entre os demais e, ao atingir a maioridade, assinou um contrato profissional para ser jogador.

Anos depois, foi vendido para o Glória, vindo morar em nossa cidade, e ao se aposentar das quadras, decidiu apresentar esse importante projeto ao clube.

“Falo com orgulho do fato do futebol ter me tirado das ruas e ter me oferecido uma carreira tão bonita quanto a que tive. Sou de família humilde e hoje vejo com clareza a diferença que faz na vida de uma criança quando o esporte é introduzido no seu cotidiano. Por isso fiquei tão feliz quando o Glória abraçou minha ideia de abrir uma escolinha”, relembra ele.

A escolinha, que atende jogadores de cinco a quinze anos, começou com dez alunos, e aos poucos mais interessados foram chegando, sendo montadas as categorias. Em seguida, foi criada a AFAVA, associação que atua juntamente com a escolinha, sendo direcionada para alunos acima de quinze anos de idade.

“Nosso trabalho aqui é feito todos os dias da semana, de segunda a sexta-feira, dividido em turnos e nas categorias Sub 11, Sub 13, Sub 15, Sub 17 e a base do time do Glória, contabilizando mais de duzentas pessoas atendidas pelo projeto”, explica Tilão.

Conheça o funcionamento da escolinha

Ao todo, são sete professores qualificados, todos formados em Educação Física, que se dividem para passar os treinos para os atletas, que já participam de campeonatos regionais de acordo com suas categorias.

Os alunos pagam uma mensalidade (sócios ganham desconto), além do clube receber ajuda de pais e empresários parceiros, que patrocinam e mandam material para serem usados nos treinos.

“Temos atletas em situação de vulnerabilidade, que já vêm indicados de outros projetos, os quais não tem custo nenhum para treinar. Conseguimos fazer esse tipo de encaixe, justamente para tirá-los da rua e mostrar que podem ter um futuro brilhante pela frente se houver a entrega e dedicação”, comenta o coordenador.

Outros oito atletas já tem contrato com o quadro profissional do Glória e, por vezes, os que se destacam na escolinha e base são emprestados para clubes com maior estrutura, com o objetivo de colocar esses guris na vitrine do futebol e irem em busca dos seus sonhos.

Sobre os ensinamentos práticos no dia a dia dos treinos, Tilão afirma:

“O nome já diz, é escolinha. Eles podem vir completamente crus, que vamos ensinar tudo, desde como conduzir uma bola, até trabalhar o psicológico para caso um dia eles consigam assinar com times grandes. Passamos para eles que no futebol de alto rendimento é tudo muito diferente, já que eles serão cobrados pela torcida, pela imprensa, pelo treinador, etc. Por isso é importante saber perder, ter humildade, cabeça no lugar e lidar bem com as frustrações. Aqui a nossa prioridade é a formação do cidadão, o jogador vem depois”, completa.

Antes da pandemia do Covid 19, a escolinha estava recebendo muita demanda de meninas querendo aprender o esporte. Com o futebol feminino em ascensão, Tilão aproveitou o momento e conseguiu jogar campeonatos voltados para elas. Porém, após o período pandêmico, quando os treinos retornaram, muitas acabaram não voltando, sendo necessário encaixar as demais junto com os meninos, de acordo com a idade.

“Uma de nossas meninas passou no Grêmio de Porto de Alegre e agora estão de mudança para morar e treinar lá. Seria um orgulho ter uma guria vacariana jogando o campeonato brasileiro feminino um dia”, diz ele.

Ao ser indagado sobre o que é mais recompensador nesse tempo todo morando em Vacaria, onde se casou e constituiu família, ele responde.

“É uma sensação muito boa ver que gerações já passaram por aqui, pois hoje já vejo ex alunos trazendo seus filhos para os treinos. Tenho atletas que também se casaram, são formados em odontologia, administração, advocacia, e independente do caminho que seguiram, levam boas lembranças do tempo que passaram jogando futebol comigo. É uma coisa que amo fazer e espero continuar contribuindo de forma positiva para a comunidade”, conclui o profissional, orgulhoso.

Pedro Henrique e Matheus Henrique, filhos de Tilão, que ano passado subiram de categoria e já jogam no profissional do Glória, estão seguindo os mesmos passos do pai e partem na busca para trazer mais títulos para a alegria dos vacarianos.

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