O mês de novembro é marcado pelo Novembro Azul, campanha destinada a sociedade com enfoque no público masculino, trabalhando a conscientização e diagnóstico precoce do câncer de próstata.
O que o câncer me ensinou?
O mês de novembro é marcado pelo Novembro Azul, campanha destinada a sociedade com enfoque no público masculino, trabalhando a conscientização e diagnóstico precoce do câncer de próstata. No Brasil, a campanha foi criada com o intuito de quebrar o preconceito referente ao exame de toque, extremamente necessário para homens a partir dos cinquenta anos
A medicina explica
O câncer, na verdade, é um nome usado para abordar mais de duzentos tipos de doenças, todas derivadas do crescimento anormal de células no organismo. O que torna as células normais em cancerosas é, além de um dano no DNA, o aumento descontrolado das mesmas e a invasão dessas células em outros tecidos do corpo.
A doutora Bruna Castilhos, oncologista clínica do Centro Regional de Hematologia e Oncologia (CRHO) de Vacaria e do Instituto Devita de Caxias do Sul, nos elucida alguns dados sobre o crescimento desse tipo de câncer. “De acordo com estatísticas americanas o câncer de próstata está entre as neoplasias mais comuns entre os homens no mundo, com uma estimativa de 1.600.000 novos casos e 360.000 mortes por ano. No Brasil, no ano de 2016 a incidência estimada foi de 82 casos novos a cada 100 mil homens”.
Assim como qualquer outro tipo de câncer, quanto mais precoce o tumor de próstata é diagnosticado, maiores as chances de cura. “Já em estágios avançados da doença, o homem pode analisar o aumento da frequência urinária, a hesitação em iniciar o jato urinário, sangue na urina e até dores ósseas podem ser alguns dos sintomas apresentados”, explica a doutora. Em estágios iniciais, a maioria dos homens com neoplasia de próstata não apresentam sintomas. No Brasil o câncer de próstata é o 2º mais comum entre os homens, atrás apenas dos tumores de pele não-melanoma, e representa de 10 a 15% do total de cânceres.
A Sociedade Brasileira de Urologia, de uns anos para cá, resolveu ampliar o conceito da campanha do Novembro Azul para, não somente os cuidados com o câncer de próstata, mas para a saúde do homem como um todo. O doutor Cristiano Antonini, urologista da cidade de Vacaria, nos conta as razões dessa decisão. “O homem é mais relapso quando se trata de assuntos médicos. A saúde masculina envolve a libido, pressão alta, diabetes, colesterol, triglicerídeos, entre outros. Esse conjunto de doenças se chama Síndrome Metabólica, a qual precisa de exames para ser descoberta e, o tratamento varia entre reeducação alimentar, exercícios e cuidados diários que os pacientes devem ter”.
Considerada uma das doenças do século, o câncer é cada vez mais comum entre as famílias e, por esse motivo, a C20 traz três relatos emocionantes de pessoas com diferentes tipos de câncer.
Juliana Turra, empresária de quarenta e sete anos, descobriu que estava com câncer de mama no final de 2014. Desde lá, sua vida e de sua família começou a ser marcada por muita luta, persistência e esperança de melhora. Como seus dois nódulos estavam crescendo rápido demais, foi necessário fazer uma cirurgia de emergência para a retirada da mama. Após isso, deu-se início ao tratamento de dois anos ininterruptos.
Fazendo quimioterapia de vinte em vinte dias em Caxias do Sul, Juliana começou a sentir os efeitos do medicamento, muitas náuseas, dores, vômitos e, claro, a perda de cabelo. “Sem dúvida o mais impactante é você se olhar no espelho e se enxergar careca. Comprei duas perucas e as usei por pouco tempo, pois decidi assumir a minha aparência”, declara.
Sempre cuidando de sua autoestima, Juliana fez algumas sessões de fotos ainda careca, para relembrar apenas as partes boas desse momento de superação. “Não acho interessante as campanhas que são feitas para pessoas com cabelos compridos cortarem e doarem para a fabricação de perucas destinadas a pessoas com câncer. Seria muito mais interessante uma campanha para fazer as mulheres carecas gostarem de sua aparência, de seu corpo e não sentirem vergonha de estarem sem os cabelos”, afirma.
Preocupada com suas duas filhas, Bruna e Eduarda, Juliana fez uma bateria de exames que comprovam que seu câncer é genético, mas não hereditário, portanto não houve a passagem da carga genética cancerígena para as meninas. Durante suas sessões de quimioterapia, ela teve contato com todos os tipos de pacientes. “Conversava com quem estava ao meu lado e alguns pareciam desesperados, outros com muito ódio de tudo aquilo e poucos com vontade de viver. É importante também que quem não tem a doença, respeite e não discrimine aqueles que estão andando em uma cadeira de rodas, que estão carecas ou perderam algum membro do corpo, pois nada disso é feio”, ressalta.
Hoje, completamente recuperada, fazendo seu acompanhamento semestralmente e com a mama reconstituída, essa vencedora enxerga o câncer como uma oportunidade em sua vida. “Deus me deu a oportunidade de lutar pela minha existência. Vejo tanta gente morrendo em acidentes fatais e ataques fulminantes de coração, sem nenhuma chance de começar de novo. Por isso, acho muito importante que os pacientes tenham sempre a positividade e espiritualidade como carro chefe em seu tratamento”, reflete Juliana.
Rudigrai Bones Freitas, professora de quarenta e seis anos, teve seu diagnóstico dado em setembro de 2016. Suas lesões foram encontradas no osso da perna direita e no estômago, na fase intermediária da doença, e sem possibilidade de realizar a cirurgia de retirada. Por isso, o tratamento foi iniciado de imediato e a duração é por tempo indeterminado.
A cada quinze dias, Rudi ia para Caxias para fazer as sessões de quimioterapia. Com o tempo, o desgaste físico foi aumentando devido aos efeitos do remédio e das viagens, e então a paciente começou a fazer seu acompanhamento médico aqui em Vacaria, na clínica Devita. “Além de eu não precisar mais viajar, ainda possibilitaram que eu fizesse a quimioterapia em casa, com um aparelho que fica junto ao meu corpo durante as horas que o remédio está sendo introduzido. Graças a ciência, a qualidade de vida das pessoas com câncer tem sido beneficiada”, relata.
A caminhada até aqui não foi fácil. Mesmo recebendo todo o apoio da família e dos amigos, Rudi entrou em depressão profunda ao ver seu corpo mudando e, apesar de não ter perdido por completo os cabelos, teve que lidar com a perda de apetite, náusea, fraqueza, formigamento nas extremidades e a incerteza de melhora. “A morte é uma coisa que está longe de nós, que não pensamos que pode acontecer a qualquer momento. Mas quando se é diagnosticado com uma doença dessas, você entende que ela pode estar bem perto e só cabe ao paciente não desistir e lutar pela própria vida”, afirma.
Aliado ao tratamento da doença, Rudi mantém consultas com psiquiatra, toma remédios para depressão, busca a homeopatia como terapia alternativa e mantém sua espiritualidade sempre elevada. Outro fator que a ajuda em sua recuperação, é conversar com pessoas que têm ou tiveram câncer, para ouvir as mais variadas experiências e se identificar com a realidade do outro.
A professora encara o seu diagnóstico como um aviso para pisar no freio e recuperar as rédeas de sua vida. “Sempre fui muito estressada, exigente comigo mesma e dava muita importância para coisas que poderia ter deixado para lá. Hoje enxergo tudo diferente, dou valor para o sentimento das pessoas e para momentos lindos como assistir ao pôr do sol, por exemplo”, declara Rudi.
Luis Carlos Pereira de Lima, policial aposentado de sessenta anos, descobriu que estava com câncer de próstata em 2007. Ao completar cinquenta anos, o paciente começou a fazer o exame de toque regularmente, como o recomendado pelos especialistas. Porém, nunca apareceu nenhum tumor nos resultados.
Ao ir consultar com um clínico geral para fazer os demais exames rotineiros, uma alteração no PSA (exame de sangue feito para doença prostática) indicou a possível existência do câncer. “Após dado o diagnóstico, o médico me explicou que eu poderia escolher entre fazer a quimioterapia, que diminuiria 70% da doença, ou fazer a retirada da próstata, que acabaria por completo com o problema. Escolhi a segunda opção”, explica o paciente.
A cirurgia ocorreu perfeitamente e a recuperação se deu em menos de um mês. Como não foi necessário fazer o tratamento, Luis Carlos não enfrentou dificuldades como os demais pacientes, devido os efeitos da quimioterapia. Porém, momentos como a biópsia foram marcantes em sua vida, devido a dor e desconforto sentido. “Minha filha é técnica de enfermagem e me ajudou com os cuidados necessários. A família é peça fundamental para qualquer recuperação”.
A retirada da próstata traz consequências negativas para a vida sexual do homem, como a infertilidade. Porém, o desempenho sexual não muda se o paciente tomar corretamente a medicação dada pelo seu médico. “Infelizmente ainda existem homens que morrem sem fazer o exame de toque, seja por medo, vergonha ou preconceito. É preciso entender a importância da prevenção e saber que a vida continua normalmente, graças aos avanços da medicina”, reitera Luis Carlos.
Liga Feminina de Combate ao Câncer
A LFCC de Vacaria tem sua fundação no ano de 1962, sendo uma associação cívil, sem fins lucrativos e de caráter beneficente. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a Liga beneficia pacientes carentes, desde crianças até idosos, de ambos os sexos e com qualquer tipo de câncer. “Pelo fato de as voluntárias serem todas mulheres, muitos acham que as nossas campanhas e serviços são apenas para o público feminino”, explica Marta Ciotta, Presidente da Liga de Vacaria.
Para receber ajuda, basta a pessoa portadora da doença ou algum responsável se dirigir até a sede da entidade, com o laudo médico, fazer seu cadastro e solicitar a assistência. A Liga oferece consultas especializadas, biópsias, exames de laboratório, medicamentos, alimentação especial, cestas básicas, passagens e encaminhamento para radioterapia e quimioterapia, visitas nas residências e apoio aos familiares.
Na manhã do dia 21 de Novembro, a Liga estará promovendo um pedágio com a entrega de folders destacando a prevenção do câncer de próstata. Para os interessados em ajudar a entidade com alguma doação, podem entrar em contato pelos telefones (54) 3232-2199 ou (54) 3232-5506.
Dias de atendimento: segundas e quintas, das 14h às 17h.
Endereço: Silveira Martins, 616 - Centro. Vacaria/RS