Nos bastidores da moda

Jocler Turmina e sua trajetória brilhante no mundo da moda, onde trabalhou em diversas cidades do Brasil e do mundo encontrando talentos dentro do segmento

01/05/2022 Artistas Carolina Padilha Alves

É quase impossível que algum vacariano não tenha ouvido falar algum dia em Jocler Turmina. Ele, que começou sua carreira pelo mundo artístico ainda muito cedo, se formou em Artes Cênicas em Santa Catarina, e voltou para nossa cidade em 1999, começando então a ministrar aulas em diversas escolas da rede pública. Porém, com o tempo passando, ele descobriu que era quase impossível viver disso no Brasil, e muito mais difícil viver disso em Vacaria.

“Quando tu falas que trabalha com arte, as pessoas pensam que tu pinta, borda, dança ou atua, mas se esquecem que é muito maior do que isso. O caminho a percorrer seria dar aula nas escolas - um trabalho lindo - porém eu desejava algo a mais. Por isso decidi ir embora para Florianópolis”, relembra.

Lá, seu primeiro emprego foi escrevendo em uma coluna de jornal, sobre moda e teatro. Porém, logo descobriu uma agência para modelos, chamada Ford Models, onde teve o primeiro contato com o mundo fashion. No mesmo ano, ainda em 2005, Jocler já foi convidado para se mudar para São Paulo, e continuar seu trabalho na matriz. “Eles têm o costume de pegar as melhores modelos descobertas no Sul e levar para SP por ser um mercado muito maior, com infinitas possibilidades”, explica.

Ao ver o bom trabalho que o agente estava desenvolvendo, pessoas importantes do ramo surgiram, fazendo-o alçar voos maiores. John Casablancas, fundador da agência de modelos Elite Model, considerada uma das maiores do mundo, chamou nosso vacariano para uma entrevista que mudou sua carreira.

“Fui indicado por Newton Oliveira para falar com John e Liliana Gomes, e assim fui contratado para trabalhar com ele na Joy Model que estava nascendo no Brasil. Até que em 2008, Casablancas lançou um livro e eu me comprometi em organizar a recepção de todo o evento. Nesse dia recebi a imprensa, dei entrevistas para programas como o CQC, recepcionei celebridades como Adriane Galisteu, Hebe Camargo, Xuxa, e fui cada vez mais entendendo como esse nicho funcionava”, completa.

No total, Jocler trabalhou e viajou por quatorze países, e visitou quase o Brasil inteiro em suas andanças atrás de estrelas, homens, mulheres, adolescentes e adultos.

“O mundo do glamour existe da porta para fora, pois para dentro presenciei muita briga, muita luta, muita puxada de tapete. O filme Diabo Veste Prada é 1% do que realmente acontece. Por mais que falem que hoje em dia todas as belezas importam, sabemos que no fundo não é assim. Mesma coisa acontece com bailarinas ou jogadores de futebol, é uma coisa que tem validade para acabar”, acrescenta.

Quando indagado sobre a realidade de modelos brasileiras perante as demais que ele encontrou ao redor do mundo, ele nos traz algumas curiosidades. “Infelizmente saímos atrás das modelos de outras nacionalidades. O foco dos brasileiros é sair da pobreza e alcançar a fama. Já nos outros países, modelar é uma profissão como qualquer outra e isso não gera a ansiedade e o imediatismo que temos aqui, além das modelos russas, americanas, africanas e europeias falarem quatro línguas fluentes e levarem com elas um universo de conhecimento que no Brasil, quase ninguém tem acesso. Uma modelo demora no mínimo três anos para se estabelecer no mercado, e até oito anos para se consolidar, é um trabalho de muita entrega e investimento”, conclui.

Em 2019, Jocler chegou a abrir sua própria agência de modelos em São Paulo, que já empregava doze funcionários. Mas, com a chegada da pandemia, tudo mudou e precisou ser fechada com menos de um ano de trabalho.

“Eu não tinha giro de caixa como as grandes têm para sobreviver naquele momento. Tive que disseminar o meu casting, encaminhando-os para outras agências maiores. Conheço o caminho do recomeço, do fracasso e do sucesso. Nunca possuí ninguém para me assessorar, que gerisse a minha carreira. Fiz tudo sozinho”, afirma.

Neste processo de costurar tudo que se perdeu na volta da pandemia, Jocler está em uma eterna ponte aérea, já que tem seu próprio apartamento em Vacaria, mas continua atuando em Porto Alegre e São Paulo, além de estar estudando a possibilidade de se aposentar em alguma das agências renomadas da Europa, onde já tem diversos conhecidos no meio.

“Me perguntam muito se eu voltei a morar definitivamente aqui, onde tenho amigos e minha família toda. Porém, é complicado eu ser o Jocler aqui, tanto socialmente, como economicamente ou culturalmente. Sinto que a minha persona não encontra espaço, mas fico feliz com uma geração nova que está com a cabeça mais aberta, apostando na evolução mental da cidade. Entendo que ainda existe uma resistência de uma parcela da sociedade e poder público em dar os devidos créditos a uma pessoa como eu, que quebrei padrões e tabus desde muito cedo”, acrescenta.

Por fim, o profissional divide conosco seus anseios e projetos futuros. Para o próximo ano será lançado um livro com sua biografia, que está sendo desenvolvido pela escritora Laurita Baldi. Ele ainda ressalta que, sua grande caminhada, apesar de ser brilhante, permanece, por vezes, mal compreendida.

“Gostaria de ter mais espaço em Vacaria, que me ouvissem mais, pois vivi muita coisa que poderia agregar. As pessoas precisam acreditar que carreiras na cultura podem acontecer e ser de sucesso, gerando frutos econômicos iguais a todas as profissões, não sendo apenas um hobby”, finaliza ele, orgulhoso de suas conquistas, mas sempre ansioso por mais.

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