O guitarrista vacariano Cristiano Guaragna coleciona participações em mais de seis projetos diferentes, entre eles, o AC/DC cover, banda de relevância nacional. Hoje também desempenhando a função de professor, ele nos conta suas impressões sobre os caminhos que sua guitarra o levou durante tantos anos trabalhando com música
A história de vida de todo o músico sempre tem momentos em comum. Como por exemplo, começar a tocar em qualquer coisa, que não em um instrumento de verdade. Esse é o caso de Cristiano Guaragna, que na infância pegou uma raquete de tênis para fazer de guitarra, enquanto escutava discos de vinil de seus pais.
Aos dez anos de idade ganhou um violão, depois de um tempo vendeu um fogão para poder comprar sua primeira guitarra de verdade, e assim começou a adquirir seus bens mais amados até hoje.
“Sobre aprender a tocar foi outra história. Tentei fazer aulas em diversos lugares e não me adaptava. Por isso, acabei comprando vídeo aulas e revistinhas na banca, e fui entendendo como aquilo funcionava”, relembra.
Ao chegar na adolescência, tudo começou a acontecer rápido na vida de Cristiano, no que se diz respeito a música. Seu primeiro contato com shows foi carregando os equipamentos para o grupo gaúcho Os Caudilhos. Em seguida, apresentou-se no colégio com uma banda de covers montada às pressas, para mais de mil pessoas, onde nesse dia ele descobriu a paixão pelos palcos.
Ainda menor de idade, ingressou na banda Volúpia, gravando dezesseis faixas para o CD da banda em apenas duas semanas.
“Na década de 80 o que estava em alta era música nativista ou rock gaúcho. Viemos com uma pegada mais pesada, com bastante solo de bateria e guitarra, o que acabou dando certo. Fizemos turnê pelo estado inteiro pra pagar o disco”, conta.
Já nos anos 2000, o músico vacariano fez um teste para ingressar na banda AC/DC cover, da cidade de Caxias do Sul. Sempre com casa cheia, Cristiano ficou quase quatro anos participando da formação, que fez turnê nacional. A banda, que ainda continua ativa, veio no início deste ano para Vacaria, onde o ex-integrante foi convidado para dar uma palhinha.
“No teste tinha cara melhor que eu, mas mesmo assim me escolheram pela minha dedicação, já que estudei, além das músicas, audiovisual e performance. A gente tocava sexta em Pelotas, sábado em Floripa, sem saber o que ia comer, onde ia dormir, sem descansar antes do show. Acredito que sou um sobrevivente desta fase que me desgastou muito, mas que me trouxe experiências inimagináveis”, afirma ele. Depois disso, ainda participou de outra banda, desta vez cover do Barão Vermelho, também da cidade de Caxias do Sul.
Formado em Publicidade e Propaganda, Cristiano chegou a cursar a faculdade de música, mas não finalizou, já que achou o ensino engessado demais. Sobre sua experiência morando fora e esse tempo na estrada, o músico comenta sobre suas percepções.
“Hoje em dia o interior é qualidade e tranquilidade. Morar em cidade grande não quer dizer mais nada, já que hoje com um home studio já é possível fazer gravações de ótima qualidade em casa. Às vezes o pessoal insiste nas grandes capitais só por ego, e não enxergam que lá tu é só mais um na multidão e no final acaba não fazendo tanto a diferença”, acrescenta.
Em paralelo a tudo isso, o profissional trabalhou em loja vendendo instrumentos musicais e sempre deu aulas de música, já que a todo momento surgiam interessados aqui e ali. Até que, em 2016, ele resolveu abrir sua escola, Acordes & Riffs, que lhe trouxe outro tipo de vivência dentro do ramo.
“O professor tem que saber dar aula de todos os estilos de música, para crianças, adolescentes e idosos. O músico é um comunicador, já que recebemos a inspiração e o dom lá de cima e temos que ser humildes para interpretar o som e passar esse conhecimento, seja para o aluno ou para o público”, explica.
Entre seus projetos atuais está o Duo Meus Queridos, em parceria com o cantor Espigão, seu amigo de longa data, o Cristianjou, projeto de música autoral que vem compondo há tempos e está prestes a lançar, e o Balboa's Cover, que apresenta músicas das décadas de 80 e 90, ao lado de Guilherme Fagundes e Ricardo Pagot.
Com esse vasto currículo, Cristiano diz que ainda tem duas coisas que gostaria de realizar e adquirir em sua carreira: a gravação de um clipe e a compra de uma guitarra Gibson Les Paul.
“A música é uma área muito ampla e fascinante, pois ela não tem fim e também não mente. Na minha opinião, o cara tem que ser guerreiro pra viver disso, tem que ter coragem, já que ainda existe muito preconceito com quem exerce essa função. A cultura é pouco valorizada e apoiada, ninguém sabe tudo o que tem envolvido, como o tempo de estudo, deslocamento para tocar, investimento nas tuas ferramentas de trabalho, entre tantos outros. Por isso, é preciso paixão naquilo que se faz para conseguir continuar ”, conclui.