Preservando a história

Franco Stedile reformou a picape de 1941 em homenagem aos Pracinhas Brasileiros que lutaram na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial

01/03/2014 Inegociáveis C20 Comunicação Bruna Bueno

Quem trafega pela BR 116, em Vacaria, em direção à divisa com Santa Catarina, não imagina que atrás de uma construção modesta, às margens da rodovia, estão sendo reconstruídos automóveis que participaram, literalmente, da história do mundo. No local, quatro pessoas acabaram de restaurar uma picape WC 21-90, de 1941. O veículo foi muito utilizado durante a Segunda Guerra Mundial. Iguais a ela só existem outras duas no Brasil e três nos Estados Unidos.

O responsável pela façanha é o empresário Franco Stedile, um aficionado por automobilismo, e “pela história dos carros”, como ele mesmo resume.

Rodeado de muitas árvores e até um açude, Stedile poderia passar horas contando cada detalhe do trabalho. Segundo ele, após a eclosão da Segunda Guerra, o exército americano encomendou um veículo que pudesse resistir às grandes variações de terreno e percalços. A tarefa, então, coube à Dodge, indústria de automóveis criada 40 anos antes. Uma das soluções apresentadas em tempos recorde para a época, foi a WC21.

Depois de algumas (poucas) mudanças no projeto, logo o modelo começou a ser produzido em série, para ser enviado aos campos de batalha da Europa. Um ano depois, a picape seria enviada também aos aliados americanos, incluindo o Brasil.  “A ideia do governo dos EUA era que os aliados pagassem os presentes depois da guerra”, lembra Stedile. Ele conta que a WC 1941 praticamente foi exterminada durante as batalhas, já que atuou diretamente na linha de frente.

“No museu do Dodge, nos Estados Unidos, a informação é a de que existem apenas três unidades por lá”, acrescenta o empresário.

Para ser proprietário da WC-90, 1941, Franco Stedile convenceu um colecionador, especialista em veículos militares, a vendê-la.

“Ela estava bem danificada e sequer tinha lonas e bancos inteiros. Tivemos que reconstruir cada peça e detalhes, com a ajuda de fotografias da época. Importamos a lona dos EUA e as plaquetas da Ucrânia”, lembra.

Ele diz que o trabalho de pesquisa é fundamental na hora de entrar num projeto de restauração, visando ser o mais fiel possível.

"A Internet tem nos ajudado muito. Através dela descobrimos, por exemplo, que a letra G no chassi indica que a picape foi construída pela Dodge e que o 90, no modelo, é um veículo militar. Até as estrelas tem significado”, completa Stedile.

Ao restaurar a Picape, a ideia foi homenagear os Pracinhas Brasileiros que lutaram na Itália. Se não fosse alusivo aos pracinhas, para ser considerada original, a bandeira americana teria que estar pintada num ponto estratégico da carroceria.

A WC 21-90 pesa meia tonelada, tem tração nas quatro rodas, aro 16, freios hidráulicos, motor T-215, com 99 cavalos e 3 mil rotações por minuto (RPMs).

Em 1942, um modelo aprimorado foi enviado à Europa. “Nos EUA, depois da guerra, as 42 eram muito usadas em fazendas, graças a sua força de tração. Aqui no Brasil, elas foram convertidas à diesel e viraram dindinho de praia”, comenta Stedile. “Vi um modelo Commander, quatro portas, feito especialmente para os comandantes do Exército”, completa. Ainda durante a guerra, a WC também foi adaptada para ser ambulância.

O empresário garante que o exemplar da WC-90 restaurado em Vacaria também é raro nos EUA. Seu valor para colecionadores pode chegar a R$ 200 mil. Em maio, o veículo será apresentado no maior encontro de colecionadores do Brasil, em Campos do Jordão. Ao que parece, se depender de Franco Stedile, a história automobilística mundial estará sempre preservada.

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