O Tear Permacultura é uma terra de pesquisa e implantação de técnicas de Agroecologia e Bioconstrução, que tem como premissa fazer um trabalho de recuperação de áreas degradadas e produção de alimentos orgânicos. Coordenado por Pablo Baldin, este espaço recebe visitação, onde as pessoas podem conhecer as edificações feitas de barro, e conectar-se com uma vida simples, ligada diretamente à natureza
A Terra da árvore redonda - Tear - carrega este nome há muito tempo, mas foi só em 2016 que começou a ser explorada, no melhor sentido da palavra. Lá, a técnica usada é a Permacultura, ciência que estuda uma vida ligada à natureza, onde o ser humano torna-se permanente no ambiente, mas sem agredi-lo, produzindo sistemas sustentáveis e regenerativos, cuidando de seus próprios resíduos e comendo o que se planta.
Pablo Baldin é Engenheiro Agrônomo, mas decidiu buscar uma alternativa ao agronegócio. Depois de sua formação, escolheu seguir por outra via, juntamente com sua esposa, Bruna Dal Pizzol, que é Técnica em Agroecologia.
“Existe um conflito muito grande dentro da nossa área, já que temos conhecimento do fato de que cada pessoa ingere, em média, sete litros de agrotóxico ao ano, e vemos todos os dias a sociedade adoecendo com obesidade, depressão, ansiedade… Muitos destes problemas estão ligados diretamente a alimentação e estilo de vida. Acredito que o agronegócio é o capitalismo exercendo a sua função, ou seja, suga o que consegue, transforma em monetário e vende para uma sociedade urbana. Entendo que este sistema está imposto há muitos anos e que é difícil essa ruptura, já que é preciso uma percepção muito complexa sobre o assunto. Fazemos a nossa parte tentando apresentar um modo de vida diferente, de retorno às raízes e, principalmente, de respeito a natureza”, explica o agricultor.
Neste sistema biodiverso, acontece o policultivo, que seria o contrário da monocultura. Alguns dos plantios feitos são: rúcula, alface, couve flor, couve folha, brócolis, abobrinha, moranga, moranga cabotiá, uva, figo, ameixa, pêssego, caqui, nêspera, pêra, citrus, goiaba serrana, tomate cereja, pimentão, cebola, repolho branco e roxo, alho, ervas medicinais, entre outros.
Com certificação orgânica, as frutas e legumes são comercializadas na feira quinzenal, que acontece na região central de Vacaria, além de uma lista que pode ser feita pelos consumidores através uma plataforma online, onde o cliente escolhe quais produtos gostaria de receber em casa, quinzenalmente.
“Este ano as vendas estão surpreendendo, pois cada vez mais as pessoas têm buscado produtos sem agrotóxicos, então, buscamos levar bastante variedade e quantidade para atender a demanda”, diz Pablo.
O espaço, que tem o tamanho de cinco hectares e meio, possui um programa de voluntariado, que recebe pessoas de vários estados do Brasil para trabalhar, trocando experiência, comida e acomodação, por mão de obra. “Colocamos o sítio em uma plataforma virtual, que une o anfitrião com os visitantes, onde os interessados podem entrar em contato e marcar o período que gostariam de trabalhar aqui. É muito interessante a troca que temos, as pessoas que conhecemos e os resultados que obtemos na produção”, afirma Bruna.
Além disso, existe a modalidade de visitação marcada, onde pessoas, escolas, famílias e quem tiver curiosidade, podem agendar uma visita guiada pelo Instagram do Tear, e conhecer todo o funcionamento do sítio.
“Também damos cursos de agroecologia, que complementam a renda provinda da feira e das visitações”, conta Pablo.
A propriedade e o dia a dia do sítio é dividido em zonas, para facilitar o trabalho:
Zona 0: edificações;
Zona 1: plantação de temperos e chás (visitada diariamente);
Zona 2: hortas (visitada ao menos uma vez por semana);
Zona 3: pomares biodiversos (visitada a cada 15 dias);
Zona 4: mata nativa (visitada a cada seis meses ou um ano).
Preocupação ecológica nas edificações
As edificações no Tear começaram a ser construídas em 2019, sendo todas bio construções, feitas com o barro retirado do porão da casa principal. Atualmente, o local conta com três quartos, banheiros, cozinha comunitária, área com mesas e redes para confraternização e descanso.
A técnica utilizada para construção, e ainda pouco explorada, é a hiperadobe, que consiste em terra ensacada, uma espécie de sacos como o de batata, enchidos com terra e compactados. Outra é a quincha, um pau-a-pique modificado.
“O barro tem condição térmica melhor do que a madeira e o tijolo, sem falar no conforto acústico”, afirma o casal.
O banheiro teve a colaboração de quatro pessoas para erguê-lo e demorou um mês para ficar pronto. Nele, os espaços são divididos pelas necessidades básicas do usuário: uma cabine é para fezes, outra para urina e a terceira porta é para quem quer tomar banho. As mandalas pintadas para dar mais vida ao ambiente foram feitas pela Bruna, que utilizou apenas a mistura de terra com cola branca.
O charme está nos telhados verdes e/ou vegetados, presente em quase todas as edificações, com muitas suculentas que aguentam temperaturas extremas, tanto no inverno, quanto no verão.
“Não acho que tudo isso que mostramos seja o perfeito ou o ideal, mas essa é a nossa verdade, é o que temos para apresentar para a sociedade: uma vida mais lenta e mais próxima do meio ambiente. Ela não nos dá muitos recursos financeiros, mas todo o resto ela oferece. Acreditamos que a evolução é ancestral, precisamos olhar para trás para pensar no futuro”, conclui o proprietário.
Ficou curioso para conhecer o Tear ou comprar os produtos da feirinha? Entre em contato com os responsáveis e faça a sua visita.
BR116, Km 54/Vacaria-RS
@tear.permacultura
Whatsapp (54) 9.9970-2061