Um sobrevivente dos anos 60

Com poucos carros produzidos nesse modelo, o Galaxie LTD 4800 torna-se ainda mais raro do que os demais feitos pela marca na mesma época. Este em específico, já passou pelas mãos de quatro proprietários em Vacaria, e segue original, sem nenhuma peça mexida. Este gigante da Ford foi um sonho de consumo ao redor do globo e agora segue sendo o sonho de muitos colecionadores e apaixonados por carros antigos, já que ele é reconhecido mundialmente pela elegância e desempenho

01/07/2022 Especiais Carolina Padilha Alves Penélope Fetzner

Há quase dez anos atrás, o C20 fazia a matéria deste gigante, que na época tinha como dono Antônio Carlos Varaschin. Agora, sobre posse de Eduardo Andreola, contamos a história completa deste Galaxie LTD 4800, ano 1969, que é considerado um sobrevivente por ser inteiramente original de fábrica e o primeiro carro com direção hidráulica e ar condicionado a ser produzido no Brasil.

Para contar a história completa, vamos precisar voltar ao passado, quando, ao que tudo indica, este sedan luxuoso começou a circular pelas ruas de Vacaria.

“O que chegou nos meus ouvidos é que o Galaxie foi dado de presente de casamento para um diretor do antigo Friva (Frigorifico Vacariense). Algum tempo depois, este senhor acabou vendendo o veículo para o seu Virgílio Luís Paganella, que cuidou dele por mais de trinta anos”, conta o atual proprietário.

Seu Luís cuidava tanto que o mantinha na garagem, suspenso por um macaco, para não estragar as molas, saindo com ele apenas em dias ensolarados.

“Eu e minhas duas irmãs nunca tocamos no volante do veículo e quando entrávamos tínhamos muitas recomendações a seguir para manter o carro limpo e conservado, como não bater as portas, nem se escorar nelas, não tocar nos vidros com as mãos sujas, etc. Abrindo o capô haviam fitas impressas com a frase: não te escore com os cotovelos. Ele guardava também um cobertor para proteger, caso houvesse necessidade de fazer qualquer ajuste na parte mecânica”, diz a filha Heloísa.

Além de todos esses cuidados, seu Luís ainda instalou um processo automático para abrir o porta-malas, coisa inédita na época, colocando também uma televisão dentro do porta-luvas. “A paixão que meu pai tinha pelo carro era imensurável, deixou de vendê-lo ou trocá-lo inúmeras vezes, algumas onde até sairia ganhando muito financeiramente. Acredito que a decisão de vender aconteceu quando meu pai adoeceu e percebeu que com suas limitações não poderia mais limpar, lubrificar, entrar embaixo para revisar e, por fim, com a prótese no quadril, que o fez perder boa parte da sensibilidade, não poderia mais dirigir. Ver o carro e não poder mais fazer nada era demais pra ele, o que levou a vendê-lo para o seu Varaschin em 2002”, declara Heloísa.

O mais interessante desta história, é que Eduardo passava pela garagem de seu Luís quase todo dia, na adolescência quando voltava da escola, e o avistava sempre lá, alisando o carro. E ali nasceu a vontade de um dia ser dono daquele possante, fazendo um pedido para o universo, que consistia em:

“Quando eu tiver tempo e condição financeira, que ele venha parar nas minhas mãos”, relembra Eduardo.

Muitos anos se passaram, até que belo dia, seu Varaschin foi comprar brita na Pedreira Vacaria, empresa da qual Eduardo é proprietário, e foi então que as negociações começaram.

“Fiquei uns seis meses namorando o carro, até que ele me entregou”, afirma.

Especificações do clássico americano

Para quem está curioso, vamos às características do modelo: motor V8, teto em vinil, frisos laterais característicos do modelo, porta malas enorme, bancos que oferecem o conforto de um sofá, calotas grandes e madeira de jacarandá no painel frontal, o que traz um ar de sofisticação ao interior do veículo.

“Bem regulado ele faz 4km por litro. Esse foi o motivo pelo qual, durante a crise do petróleo, na década de 70, todos quiseram se livrar dele. O gasto é absurdo”, comenta.

Há sete anos com seu novo, e ao que tudo indica, último dono, o galaxão já levou quatro noivas ao altar, já que Eduardo comprou a roupa completa de chofer para fazer este trabalho de levar as mulheres até a igreja em um dos dias mais importantes de suas vidas.

“Eu cobro um valor simbólico para fazer esse serviço, mas não faço pelo dinheiro. Acho interessante poder dar uma função para o carro, colocá-lo em uso, para não ficar tanto tempo guardado na garagem. Ocupo o dinheiro para garantir que a estética dele esteja impecável no dia do casamento, pagando o combustível e deixando tudo em dia para que seja um momento perfeito”, esclarece.

O imponente carro participou uma vez do Retrô Sobre Rodas e uma vez do Encontro de Carros Antigos de São Marcos com Eduardo, o qual sentiu-se orgulhoso em estar expondo uma verdadeira raridade original de fábrica, enquanto os demais expostos, em sua maioria, eram todos restaurados.

Faltando ser feita a revisão de 40 mil quilômetros, o classudo e requintado Galaxie 4800, a cada ano que passa, parece tornar-se ainda mais impecável dentro do mundo automobilístico.

“Quem cuida minuciosamente da estética do meu carro é o Márcio, da Maverick Automotive Detailing, que o deixa sempre impecável para qualquer ocasião”, diz Eduardo.

Sem intenção nenhuma de passá-lo para frente pelos próximos anos, o proprietário zela pelo cuidado, carinho e atenção que dedica ao seu sonho de adolescência que, finalmente, tornou-se real.

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