Uma paixão com muitos quilômetros rodados

No mês dos namorados, Inegociáveis apresenta duas histórias de paixão. Dona Norma Boeira*, a primeira mulher a participar de nossa seção, revela o que faz o Ford A 1929 e seu Antônio Golin, o Toni*, habitarem tanto tempo no seu coração

01/06/2012 Inegociáveis Giana Pontalti Vinicius Todeschini

Ter um carro em 1929 era um luxo. Poucos tinham o privilégio de ter um naquela época. Luciano Boeira, pai de Norma, tinha cinco. Entre eles, o Ford modelo A. O Fubica, como é conhecido por aqui, tinha muitas serventias. Transportava até 800 kg de alimentos produzidos nas terras de seu Luciano, que era agricultor, para a cidade. Levava as moças aos bailes. Socorria pessoas em apuros, já que seu Luciano também era taxista.

“Esse carro tem muita história. Para mim, representa a presença de meu pai que foi um grande homem”, conta Norma. 


O Ford A tem quatro marchas, contando a ré. Atinge a velocidade de 40 km/h e, com muito esforço, alcança os 70. Já percorreu 600 mil quilômetros, levando até oito pessoas.  Para rodar com tranquilidade, tem que estar com o motor regulado. "O Paulo é que sabe deixar o carro no ponto” explica Norma, lembrando-se das habilidades do filho. É tão incomum que não é qualquer pessoa que consegue ligar e conduzir o Ford 1929. Imagine então consertá-lo. “Quanto acontece algo grave, preciso chamar um mecânico de Caxias do Sul”, revela Norma. 
Norma ficou com o Ford A quando o pai faleceu. Não o herdou, precisou comprar da irmã para permanecer com ele, pois todo o dinheiro da família foi gasto com o tratamento da doença de seu Luciano.

“Não o vendo por nada nessa vida. Sei até com quem ele vai ficar quando eu partir. Já está em meu testamento” confessa.

 Mas não é só do Fubica que Dona Norma não se separa, de seu Toni também. Os dois estão juntos há 54 anos.  “Eu e Toni nos conhecemos em Ipumirim, Santa Catarina. A paixão começou em um baile. De lá, viemos juntos para Vacaria morar no Glória, porque meu pai falava muito bem do bairro” conta. 
Seu Toni é borracheiro e é ele que Dona Norma chama quando o carro necessita de pequenos reparos. 
Norma está sempre atenta ao Ford. Chegou até a tirar carteira de motorista por causa dele, mas é sempre guiada pelo marido. “O Toni é um homem ótimo. Nunca sai sem me dar um beijo de manhã”. E qual o segredo de uma relação de tanto tempo?

“É preciso respeito e não dar bola para as bobagens. É claro que, convivendo meio século juntos, a gente tem nossas rusguinhas. Mas é como o carro, tem algumas coisinhas “tortas”, mas a gente não dá bola”. 


O Ford A é um carro raro. Mas não são raras as vezes que o vemos rodando por aí. Toda a família usa o carro sem dó. “Claro que somos cuidadosos, mas carro foi feito para usar” diz a decidida Norma. 

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