Uma serra e um amor sobre quatro rodinhas

Em homenagem ao Dia dos Namorados, a C20 conta a história de Neivo e Rita, que estão juntos há 25 anos, tendo o “Freca-Freca” como protagonista

01/06/2014 Inegociáveis C20 Comunicação Bruna Bueno

Conta a lenda que São Valentim, bispo de Roma durante o império de Cláudio II, continuou celebrando casamentos, mesmo com as ordens de acabar com a união de casais. O imperador acreditava que os solteiros eram guerreiros melhores. E o religioso acabou preso e condenado à morte. Na masmorra, Valentim recebia flores e bilhetes da população, dizendo que seus autores ainda acreditavam no amor. Às vésperas de sua morte, o bispo teria se apaixonado pela filha cega de um carcereiro. De tanto amor, conseguiu curá-la da doença. Antes de ser executado, deixou uma carta de adeus para sua amada, assinando como “Do Seu Valentim”. Mais tarde, a expressão virou sinônimo de “Do Seu Namorado”. Ele morreu no dia 14 de fevereiro e foi chamado de mártir e transformado em santo pela Igreja Católica. Até hoje, muitos países lembram a data como o “Dia de São Valentim” ou “The Valentine's Day”. No Brasil, o dia é comemorado em 12 de junho, por ser a véspera do Dia de Santo Antônio, o casamenteiro.

Independente das explicações ou lendas e mesmo com a tecnologia em primeiro plano, a cada dia, centenas de casais manifestam seu amor das mais variadas formas. Seja através de um simples bilhete, até presentes, caros ou não. Há os namorados “ficantes”, os comportados, os baladeiros e os eternos. E é sobre este tipo de amor que a Revista C20 fala hoje, com a história de Neivo e Rita.

Há cerca de 25 anos, Neivo Bertelli, então com 39 de vida, já era bem conhecido em Vacaria. Os moradores o chamavam em casa para serrar a lenha que seria usada para aquecer os ambientes. Era casado e tinha três filhas e um filho. Pouco menos de 20 anos antes, Bertelli criou uma espécie de serra-móvel. Por isso, chamava ainda mais atenção na cidade. Vivia para cima e para baixo, atravessando ruas e cruzamentos, à bordo do carrinho, apelidado mais tarde de “Freca-Freca”, por causa do barulho que seu motor fazia (e ainda faz). “Alguns também o chamam de Fubica”, diverte-se Seu Neivo, hoje com quase 65 anos.

De outro lado, Rita Bueno, na época com 37 anos, também tinha sua família já formada com o marido e duas filhas. Ela conhecia bem seu Bertelli, seu vizinho no bairro Santa Terezinha. Morando nos fundos da casa da mãe e apesar de ter oito irmãos, foi dona Rita que cuidou dos pais até o final de suas vidas.

Ganha-pão artesanal

Quis o destino que Neivo e Rita ficassem viúvos. Depois de um período de namoro, em 1989, a união dos dois foi oficializada e dona Rita ganhou o sobrenome Bertelli na identidade. “Nunca brigamos”, afirma ele, com veemência. A esposa confirma e seu Neivo vai além. “Ela é companheira, minha parceira de todos os dias.” O casal teve uma filha, hoje com 21 anos. “Criei seis mulheres: as minhas, as dele e a nossa”, conta dona Rita, demonstrando orgulho.
Hoje aposentada e com 62 anos, dona Rita trabalhou na Escola Zezinho. “Adorava trabalhar na escola. Conheci praticamente todo mundo que passou por lá”, lembra, emocionada. Despediu-se do colégio há oito anos e se diz com muita saudade. Em várias ocasiões, seu Neivo buscava a amada dirigindo a serra-móvel. “Certa vez, na volta para casa, a polícia nos parou para dizer que era proibido andar com o carrinho daquele jeito. Nós argumentamos que era nosso ganha-pão, mas não adiantou: ou deixávamos o veículo em condições de trafegar pelas ruas ou teríamos que desistir dele”, conta o casal.

Foi quando o “Freca-Freca”, considerado um veículo artesanal, começou a ganhar estrutura melhor e ficar mais parecido com um carro “de verdade”. Recebeu faróis, lanternas, teto, espelhos retrovisores, para-choques e para-brisa.
Neivo Bertelli conta que criou o carrinho para facilitar o transporte da serra que cortava a lenha. Até então, transportava a ferramenta numa caminhonete. Toda vez que precisava cortar a lenha, a dificuldade do jovem Bertelli em levantá-la era enorme.

“Vi um carrinho parecido numa viagem a Caxias, com motor maior, nos anos de 1970. Quando voltei a Vacaria, resolvi adaptar a ideia”, explica.

Ele transformou um grande pedaço de madeira num quadro. Em seguida, encaixou os eixos e o motor estacionário, o mesmo das máquinas de moer trigo. “Esse motorzinho, que está comigo há mais de 40 anos, faz até 40 km/h”, garante seu Neivo.

Fubica à Mad Max

Quando começou seu ofício, ele ainda trabalhava num posto de combustíveis, onde ficou dos 19 aos 22 anos. Como o trabalho só aumentava, resolveu abrir o próprio negócio. Quando não cortava lenha, fazia serviços de funilaria e serralheria.

O “Fubica” fez e faz tanto sucesso que até a revista Quatro Rodas escreveu sobre o assunto. Eles chamaram o veículo de Mad Max, numa alusão ao filme do final dos anos de 1970, com Mel Gibson, onde os personagens construíam seus carros de guerra.

“Ainda hoje, as pessoas se surpreendem com o veículo. Tiram fotos, filmam e querem saber mais sobre ele”, contam dona Rita e Seu Neivo.

Ed. 66 Junho de 2014.

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