Conheça a trajetória do narrador Nilson Hoffmann
Filho de Noelci e Neli Hoffmann, seu Nilson Benedito Silveira Hoffmann nasceu em Bom Jesus (numa chácara na Vila Spinelli), onde passou a infância com a família. Primogênito de seis filhos (cinco homens e uma mulher), desde cedo levou uma vida campeira, onde as vacas de leite faziam parte do seu cenário natural. Amante da cultura gaúcha aprendeu a declamar ainda criança e aos 10 anos ingressou nas aulas de danças no CTG Presilha do Rio Grande.
Apaixonado pelas danças folclóricas, aos 17 anos foi para São Joaquim trabalhar como “posteiro” (instrutor das invernadas) do CTG Minuano Catarinense, juntamente com Edson Dutra, que seria o gaiteiro do grupo. Era época de férias e ambos foram para ficar por pouco tempo. Edson acabou voltando para Bom Jesus, onde fundou o conjunto “Os Serranos” e Nilson, porém, lá permaneceu por cinco anos como profissional, onde a prefeitura era a pagadora. Iniciou no tradicionalismo, portanto, na dança e na poesia.
De São Joaquim, Nilson foi para Porto Alegre, em 1970, onde realizaria o grande sonho de dançar na Capital. Já conhecia Paixão Cortes, o qual fizera muita pesquisa folclórica rio-grandense em Bom Jesus. Porém, lá não permaneceu, pois tinha que se ter muito dinheiro para bancar as viagens, que eram inúmeras para quem participasse dos CTGs – “Os Gaúchos” (comandado por Nilva Pinto) e “Os Tropeiros” (Paixão Cortes). Decepcionado, voltou para Bom Jesus e como a tia Noemy estava de malas prontas para Vacaria, resolveu acompanhá-la.
Aqui chegando, o grupo de danças “Os Vacarianos”, do CTG Porteira do Rio Grande, estava se desfazendo e em 1971 seu Nilson conseguiu a vaga de instrutor do novo grupo. Paralelamente, arrumou um emprego por intermédio do saudoso padre Caetano Caon, com seu Atílio Marcantônio (na concessionária Dodge), com a combinação de seu Nilson sair mais cedo para poder ensaiar o grupo de danças. A rotina era cansativa, pois ele trabalhava até às 17 h, depois ia para o ensaio e, posteriormente, para o colégio, o antigo São Francisco, onde cursava o curso Técnico em Contabilidade.
1973 foi um ano importante, pois além de se formar no curso técnico seu Nilson conheceu a futura esposa. O patrão do CTG Porteira do Rio Grande era o Sr. Nerímio Almeida e este lhe pediu para que convidasse a prenda Eliza Dinara para dançar “uma marca”, num baile que acontecia em Muitos Capões, e convidá-la para ser a primeira prenda da entidade. Seu Nilson convidou-a e, então, dentro da formalidade, dançaram uma música e ele voltou para a mesa. Logo seu Nerímio pediu para ele arrumar uns livros para Dinara se preparar como primeira prenda. Livros arrumados veio outro pedido do patrão: ensiná-la a dançar as músicas folclóricas, a fim da mesma se preparar para o concurso da mais prendada prenda do X Rodeio Crioulo Internacional, que aconteceria em janeiro de 1974. Ainda em 1973 o grupo foi num baile em São Joaquim, onde seu Nilson apresentou a primeira prenda para o público. Lá dançaram uma valsa e continuam dançando há 45 anos!
Em 1983 nosso homenageado encerrou a carreira de instrutor, mas continuou firme no Porteira. Paralelo às danças já era narrador dos Rodeios, onde permanece até hoje. Em 1990 assumiu como patrão da entidade, reeleito em 1992, estando à frente do 19º e 20º Rodeios Crioulos. Sua marca foram obras novas no Parque Nicanor Kramer da Luz, como arquibancadas e a antiga Concha Acústica (1990). Em 1992 implantou, juntamente com Antônio Adalmir Alves, o primeiro festival de música dos Rodeios, o qual se chamava “Cante uma canção a Vacaria”. A canção vencedora foi “Terra Querida” (letra de José Atanásio Borges Pinto e interpretação de João de Almeida Neto) e o segundo lugar ficou para a música que virou hino – “Uma canção pra Vacaria” (letra de Salvador Lambert e interpretação de Vilson Paim).
Em 1993, com eleição para o Rodeio de 94, nosso entrevistado continuou como patrão do Porteira, mudando o nome do festival para “Cante uma canção em Vacaria”, permitindo maior flexibilidade de temas. Em 1996 entregou a patronagem, sem dívidas, para Luis Carlos Bossler, mas nunca deixou as narrações, ofício que realiza com a alma. Mas tal ofício não se restringe somente aos rodeios. Profissional da narração, fez várias viagens, como Barretos, Novo Horizonte (SP), Mato Grosso e Santa Catarina.
Perguntamos ao seu Nilson como ele vê a evolução do Rodeio de Vacaria e ele respondeu que ainda é o maior rodeio da América. Mantém bastante a tradição e o que falta, na verdade, é estrutura.
Entre tantas homenagens que recebeu durante os anos, destacamos o recebimento do troféu Candeeiro Farrapo em 2022, o reconhecimentos pelos cinquenta anos de narração nos Rodeios Crioulos do Caverá, em Araranguá/SC, e a menção honrosa entregue pelo MTG, pelos trabalhos relacionados a cultura e tradicionalismo como narrador de rodeios, agora em 2024.
Hoje nosso homenageado está aposentado, mora no seu sítio (interior de Muitos Capões) com a esposa Dinara, onde cria ovelhas, cuida da horta, caminha, assiste TV. O casal tem duas filhas (Milena e Melissa) e dois netos (Heitor e Henrique).
“Neste último rodeio, ele entregou um troféu para meu filho simbolicamente registrando que, se nos próximos rodeios, por motivo de saúde ou por outros motivos, ele não puder mais narrar, deixa seu legado e seu exemplo para caso os netos queiram ou possam seguir o mesmo caminho do avô. Ele não fala em se aposentar e vai seguir narrando até quando Deus permitir”, afirma Milena.
Para Vacaria ele vem duas vezes por semana pagar contas, fazer compras, ir na academia e gravar o programa que tem na Rádio Fátima, o “Tradição – Usos e Costumes”, que vai ao ar todos os sábados das 8 às 11h. Terminamos a nossa entrevista com a frase do nosso homenageado: “Tudo o que fiz foi bom. Nada para se arrepender ou a acrescentar!”.