Uma vida, uma tesoura

94 anos de idade e 65 anos de profissão. Vamos conhecer a história de Seu Evaristo Cechinato, que é provavelmente o cabeleireiro mais antigo da cidade e um dos primeiros moradores do bairro Fátima, onde reside até hoje

01/11/2020 Empreendedorismo Carolina Padilha Alves Penélope Fetzner

De poucos anos para cá, Seu Evaristo Cechinato está sentindo sua memória prejudicada, sendo a única queixa dele em relação a sua saúde. Natural de São Manoel e nascido em Abril de 1926, o cabeleireiro não sente dores nas pernas e nem nas costas, por ficar em pé de segunda a sábado, atendendo no salão.

“Me dói mais a coluna de ficar dormindo na cama, do que de vir trabalhar”, diz ele.

Apesar de estar completando 65 anos de profissão, ele começou a cortar cabelos muito antes disso. Lá pelos 10 ou 12 anos, com uma máquina emprestada de um familiar, raspava a cabeça dos homens da vizinhança que precisavam do serviço. 

Sua atividade oficial quando atingiu a maioridade foi de motorista em uma cooperativa, onde dirigia os primeiros caminhões importados depois da Segunda Guerra Mundial. No final de semana, usando uma cadeira de barbeiro de madeira que mandou fazer, ele cortava os cabelos dos colegas e aproveitava para ganhar um dinheiro extra.

Ao chegar em Vacaria, na década de 60, e com mais experiência na área, abriu sua sala em uma casa de madeira, na Avenida Moreira Paz, onde mais tarde construíram um prédio, no qual Seu Evaristo hoje reside. “Moro perto do trabalho e por isso enxergo minha esposa da janela quando estou cortando cabelos”, conta. Seu Evaristo tem um casal de filhos advogados, sendo que Patrícia mora em Porto Alegre e César Antônio mora em Santa Cruz do Sul. 

Há mais ou menos 6 anos, o cabeleireiro tem seu salão na Avenida Militar e nos explica que sempre tenta abrir 6 dias por semana, porém, quando o tempo está ruim e fazendo muito frio, prefere não sair de casa.

“O inverno judia muito da gente. Todo ano me lembro da nevasca de 1965, quando caiu a Ponte do Pelotas. Foi muito sofrido naquela época e continua sendo para as pessoas de idade que moram aqui e convivem com temperaturas tão baixas. Estou ansioso esperando pelo verão”, afirma.

Com orgulho, ele fala que é um dos moradores mais antigos do bairro Fátima e que, quando aqui chegou, era tudo campo aberto. Nesse tempo todo cortando cabelo e barba dos vacarianos, Seu Cechinato já viu gerações passarem por sua cadeira e comenta que agora atende os filhos grisalhos de alguns de seus clientes fiéis. Da mesma forma que passou pela tristeza de acompanhar o falecimento de muitos amigos.

“Corpo parado é um corpo doente. Parar de trabalhar na minha idade é esperar a morte chegar, por isso ainda não pensei em deixar minha profissão. Não sou mais o que eu era, estou mais devagar, parei de dirigir, mas ainda sou capaz de cortar cabelo e barba sem errar”, conclui ele, sorrindo. 


 

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