Uma volta no tempo

Neste mês, celebramos duas datas importantes: a Revolução Farroupilha, em 20 de Setembro, e o Dia Mundial do Turismo, comemorado no dia 27. Por isso, escolhemos contar a história da Fazenda do Socorro, local que representa muito bem ambas as comemorações. Acompanhe conosco a matéria desta que é a responsável pelo início do desenvolvimento de nossa cidade e que é um ponto turístico visitado por pessoas de todos os locais do Brasil, motivo de orgulho para o povo gaúcho

01/09/2018 Especiais Carolina Padilha Alves Tiago Sutil

Ainda na época do Brasil Colônia, existiu um sistema adotado pela Coroa Portuguesa chamado de sesmaria, que consistia na doação de terras para a produção agrícola, com o objetivo de cultivar e desenvolver um território recém dominado por Portugal. Foi então que, em 1770, constrói-se a Fazenda do Socorro, a sesmaria de vinte e um mil hectares, responsável pelo nascimento de nossa cidade e a ascensão econômica do estado inteiro.

No tempo do tropeirismo, o principal caminho era feito pelos Campos de Cima da Serra, que ia de Cruz Alta até Sorocaba, no estado de São Paulo, completando mais de mil quilômetros de estrada e meses de viagem. Os tropeiros deram o pontapé inicial para a inserção do Rio Grande do Sul no restante do país, levando e trazendo produtos valiosos, gado e mercadorias importantes na época. Para eles, a Fazenda do Socorro era um ponto seguro, onde poderiam descansar e recarregar as energias para cruzar os outros estados.

Quem recebeu estas terras foi José Campos de Brandemburgo, porém seus descendentes às passaram para Marcos de Flores Noronha, que se instalou em 1903. Com o tempo, quem passou a administrar a fazenda foi a filha de Marcos, Maria de Lourdes Noronha, uma mulher forte, a frente do seu tempo, visionária e empreendedora.

Lourdes fez da estância, o primeiro lugar a ter instalações completas para a fabricação de queijos, conserva de carne, plantações de pastagens, agricultura, métodos de zootecnia, fruticultura, construindo até mesmo uma escola dentro da propriedade, para que os filhos dos empregados pudessem estudar. A capacidade de administração de Lourdes, que transformou o lugar, deixou uma estrutura com arquitetura colonial riquíssima em detalhes decorativos e geografia interna diferenciada, que nos dá a ideia do que foi a Fazenda do Socorro há séculos atrás.

Na estrutura vemos a casa principal, com inúmeros quartos e banheiros, o refeitório para os empregados, galpão para os animais, piscina e ítens que provam a existência de escravos que trabalharam por algum tempo na propriedade, como as telhas de barro que foram moldadas nas coxas destes trabalhadores. Além disso, podemos ter acesso a um museu, onde são expostas peças, acessórios e utensílios, como os vestidos de Lourdes, encilhas usadas nos cavalos, berços, prataria, um escritório repleto de livros e diários, que eram usados para anotar as atividades e a produção da fazenda, entre tantas outras coisas da época. Ainda não catalogado, estima-se que existam em torno de mil peças, em sua maioria bem preservados, que proporcionam uma verdadeira viagem no tempo para o visitante.

O bebedouro que encontra-se em frente a casa principal, é um monumento construído nos moldes da arquitetura portuguesa e mostra a imponência de um tempo rico de nosso estado, embelezando ainda mais o local. A Fazenda do Socorro já hospedou a Princesa Isabel de Orleans Bragança, bisneta de Dom Pedro II, além de sempre receberem cantores e pessoas importantes nos meses do Rodeio Crioulo Internacional, e serem procurados para a produção de filmes que envolvam a história do Rio Grande.

A capela, onde já foram realizados vários casamentos, foi construída por volta de 1950, com destaque para a Santa Nossa Senhora da Conceição e alguns anjos, todos feitos de madeira. O altar, veio da igreja do Rosário, em Porto Alegre, onde, no tempo da segregação, era frequentada apenas por pessoas negras. Por esse motivo, na pintura de Nossa Senhora do Carmo com o menino Jesus, bem no alto, ambos têm a pele negra. Também dentro da capela encontra-se a figura de Nossa Senhora do Socorro, ela que deu origem ao nome da Fazenda e segue abençoado a todos que visitam o espaço.

Lourdes faleceu com oitenta e um anos e, como não teve filhos, deixou a estância como herança dividida em nove herdeiros, entre eles a sua dama de companhia, motorista, sobrinhos, administrador, etc. Com o passar do tempo, o sobrinho Abelardo ficou responsável pela sede até o ano de 2005.

A partir de 2006, Ivete Panisson de Rossi e sua família estão instalados na fazenda. Ela, seu marido Sérgio e suas três filhas, foram aprendendo a importância e a riqueza cultural que existe naquele ambiente e, por isso, após manterem dez anos a estância fechada para visitação, abriram novamente para que as pessoas possam conhecer esse verdadeiro patrimônio histórico que temos nas mãos.

“Não recebemos apoio governamental para mantê-la, por isso a manutenção e a preservação do espaço é feito do nosso bolso e por amor à cultura. Tentamos manter o máximo de ítens originais da época em que tudo aconteceu, para que os nossos conterrâneos e visitantes de fora possam voltar no tempo ao passar pela porteira”, comenta Ivete.

Apesar de ser considerado um local de turismo rural em Vacaria e ter um potencial muito grande para se tornar um dos pontos turísticos mais importantes do estado, a Fazenda não recebe verba e incentivo para se destacar. No entanto, neste ano ocorreu, nos dias 4 e 5 de Agosto, um passeio de Maria Fumaça, locomotiva fabricada nos anos 50 e que veio de Santa Catarina para ficar uma semana em nossa cidade. Levando em torno de mil e seiscentas pessoas, divididas em quatro horários diferentes, o trem parou dentro da Fazenda do Socorro, proporcionando a visitação ao local, que estava preparado com várias atrações para os visitantes, como food trucks e apresentações artísticas.

O patrimônio histórico de mais de duzentos e quarenta anos recebe visitas apenas com agendamentos, onde é cobrado uma taxa simbólica de R$10,00 e para books fotograficos, R$50,00. Para maiores informações, é possível acessar o Facebook da Fazenda, www.facebook.com/FazendaDoSocorro, onde também contém vídeos da reportagem feita pelo Globo Repórter, uma entrevista com Lourdes de Noronha e fotos dos eventos realizados na propriedade.

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