Universo veggie

Segundo o IBOPE, o Brasil possui quase 30 milhões de vegetarianos, provando uma crescente nos adeptos da dieta sem carne. Mas uma questão frequente em torno desse assunto é a distinção entre vegetarianos e veganos, os quais também tem aumentado nos últimos tempos em nosso país e no mundo. A seguir, entenderemos as diferenças entre as classificações, ouviremos a explicação de uma nutricionista e vamos conhecer duas vacarianas que seguem essa filosofia de vida em meio a uma cultura tão carnívora

01/10/2019 Especiais Carolina Padilha Alves Tiago Sutil

O termo vegetarianismo surgiu em 1840, o qual pode ser considerado uma dieta que exclui todo e qualquer tipo de carne, seja ela de gado, frango, peixe, ou outro animal. 

Já o veganismo, criado em 1944, se refere a pessoas que, além de não ingerir nenhum tipo de carne, também não consomem alimentos, produtos de higiene pessoal, medicamentos, cosméticos e roupas que sejam derivados ou testados em animais.

Tanto um, quanto o outro, podem ser encarados como uma filosofia de vida, que busca os direitos dos animais e a não exploração dos mesmos. Outros motivos para excluir a carne do prato são o fato da intolerância e a má digestão da carne para alguns organismos, e o fator energético, onde muitos acreditam que estão consumindo uma “energia de morte”, já que a maioria dos animais são abatidos de forma violenta.

Com o crescimento exponencial dos adeptos a essa dieta/filosofia, o mercado como um todo vem se reinventando para garantir que as exigências dessa porcentagem da população, que já não é mais tão pequena, seja atendida. 

Famosos como o cantor Paul McCartney, que é vegetariano, e a cantora Beyoncé, que define-se como vegana, entre tantas outras estrelas nacionais e internacionais, costumam fazer campanhas em suas redes sociais, explicando a importância da diminuição do consumo de carne para o planeta. Assim como alguns documentários, como o Cowspiracy, disponível na Netflix, trata de questões como a sustentabilidade, que está diretamente ligada à pecuária.

Já no que diz respeito a parte nutricional, é importante saber que as proteínas da carne podem sim ser encontradas nos vegetais.

“A substituição pode ser feita pelas proteínas vegetais, que são encontradas em leguminosas (feijões, ervilha, grão de bico, lentilha, soja) e derivados da soja, como o tofu, quinoa em grãos e oleaginosas. O consumo de fontes alimentares de vitamina C, associada com alimentos ricos em ferro nas principais refeições, potencializa a sua absorção”, explica a nutricionista vacariana Ana Carolina Vieira de Santo.

Ao contrário do que muitos pensam, a suplementação e ingestão de cápsulas para os vegetarianos e veganos, não é uma regra. “É preciso avaliar a necessidade nutricional individual, de acordo com exames bioquímicos. Mas de uma forma geral, vitamina B12 (metilcobalamina), por ser fonte exclusiva em alimentos de origem animal. É importante ter um acompanhamento profissional para ajustar a alimentação e prevenir deficiências nutricionais”, afirma Ana Carolina.

Para muitos gaúchos, diminuir o consumo de carne pode ser um grande desafio. Segundo a nutricionista, a carne vermelha não é contraindicada, porém é interessante reduzir a frequência do consumo devido ao alto teor de gordura saturada, e se consumida em excesso, pode aumentar o risco de desenvolver doenças cardiovasculares, obesidade, incluindo alguns tipos de câncer. Carnes magras, como frango e peixes, apresentam menos perigo.

Mas e quanto às crianças, será que é possível que elas se tornem vegetarianas cedo, por influência dos pais e por escolha própria?

“Apesar de gerar muitas dúvidas, é possível as crianças serem vegetarianas. A alimentação veggie, se bem planejada e orientada, satisfaz as necessidades nutricionais da criança, garantindo os nutrientes necessários para promover o crescimento normal. É imprescindível buscar auxílio de um profissional para acompanhamento”, comenta Ana Carolina.

Para quem está tentando reduzir a carne do seu prato, existe uma campanha mundial chamada “Segunda sem carne”, que convida as pessoas a ficarem todas as segundas-feiras, ou uma vez por semana, sem consumir carnes e alimentos de origem animal para descobrir novos sabores.

Em crescimento:

  • 2011: 9% da população se declarava vegetariana. Na época, essa porcentagem representava cerca de 17,5 milhões de brasileiros;

  • 2012: houve uma pequena queda. 8% da população se declarava vegetariana, cerca de 15,2 milhões de pessoas na época;

  • 2018: 14% dos brasileiros se declararam vegetarianos, cerca de 29,2 milhões de vegetarianos no ano passado;

  • Nas regiões metropolitanas de São Paulo, Curitiba, Recife e Rio de Janeiro, esse percentual sobe para 16%;

  • Nas capitais, o percentual de entrevistados que daria preferência aos produtos veganos, se eles tivessem o mesmo preço dos não veganos, chegou a 65%;

  • 55% dos entrevistados consumiriam mais produtos veganos (sem nada de origem animal) se houvesse uma melhor sinalização nas embalagens.

*Estudo realizado em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) e divulgado pela SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira.

 

Defendendo a causa

“O processo para me tornar vegetariana foi longo, desde 2015 tenho tentado e falhado. Mas 2018 foi um ano decisivo para mim, eu tentei diminuir a carne inicialmente até que parei completamente há 7 meses. Sempre tive preocupação com a causa animal, e comecei a perceber que não poderia amar e proteger apenas uma espécie. Ao mesmo tempo que percebia como a indústria da carne era cruel, comecei a pesquisar sobre as consequências do consumo de carne para o organismo e percebi que comer carne me causava muito desconforto físico. Além da questão ambiental, do consumo exagerado e como ele prejudica o planeta. Os animais são abatidos muitas vezes de forma violenta, e consumir algo com uma energia de morte não tem como fazer bem para o organismo. Moro apenas com minha mãe e minha filha, e geralmente minha mãe quem prepara minhas refeições vegetarianas, então o consumo de carne dela diminuiu consideravelmente. A grande maioria dos meus amigos estão experimentando receitas vegetarianas, alguns até preparam alguns pratos para mim quando nos reunimos. Durante esse tempo recebi muitas críticas, algumas pessoas são tão agressivas que realmente parece que estou fazendo algo errado em me preocupar com os animais e o meio ambiente. Viemos de uma criação carnívora, desde crianças escutamos que se não comermos carne ficaremos doentes, então, é compreensível este posicionamento das pessoas. Em contrapartida muitos já aprenderam mais sobre vegetarianismo e mostram-se solidários com a causa. Quando Beatriz nasceu eu era carnívora, então desde pequena ela consome carne. Tento explicar a causa da minha decisão, mas ela tem uma opinião muito fechada sobre o assunto. Sigo tentando mostrar a ela outras formas de ver o mundo, respeitando suas crenças e seus gostos.” Analice Mota de Almeida, 29 anos.

 

Do veggie ao vegan

“Completei 6 anos de vegetarianismo no mês de agosto. Desde a infância fui criada em meio aos animais, vacas, galinhas, porcos, cavalos, gatos, cachorros, aves, entre outros, que me indagava, pois foi difícil compreender o motivo que eu estaria me alimentando com o mesmo animal que a dias atrás eu estava brincando. Sempre tive muito apego e empatia com diversas formas de animais, o que fez a opção vegetariana ser algo simples e natural nessa caminhada. Comecei diminuindo o consumo de carne aos poucos, até perceber que havia removido toda forma de cadáveres nos hábitos alimentares. Além disso, meus princípios ideológicos buscam compreender os seres como iguais, onde a energia é primordial em cada passo dado na minha vida, o que me fez não aceitar ingerir nenhuma forma de alimento que tenha passado por processos de sacrifício. A carne, pelo fato de estar morta, carrega energias hostis e cruéis gerados pela violência que esse ser passou até chegar em nossa mesa e que, infelizmente, hoje em dia  é considerado como algo comum e banal. Várias vezes, quando vou em ambientes de alimentação ou até em lojas de cosméticos, sinto tamanho desconforto ao perceber os funcionários se cutucando, ou fechando a cara quando digo que não uso produtos com origem animal ou não como carne. Em outros lugares também já tive a desonra de presenciar brincadeiras infelizes e de mal gosto por ser vegetariana. Eu particularmente não gosto de comer saladas e sim pratos produzidos a partir de legumes assados, cozidos ou fritos. Raramente frequento mais que um restaurante em minha cidade, pois sei como é desconfortável chegar em um ambiente onde o atendimento é ruim pela opção alimentar que decidi seguir. Quanto ao processo para chegar no veganismo, o estilo de roupas de couro e peles de animais nunca foram em alta na minha forma de vestir, e então, apenas procurei evoluir em vários pontos dessa caminhada, parando de usar produtos testados em animais, como cosméticos, por exemplo. Muitos produtos veganos industrializados tem um valor alto, muitas vezes um sabor desagradável por ser industrial e ter difícil acesso em Vacaria. O leite de amêndoas, por exemplo, tem uma receita caseira saborosa, fácil e barata, porém varia muito de produto a produto. É necessário maior tempo e dedicação para os preparos de comida veganas, pois o método de produção a partir de alimentos naturais passa por um processo lento até chegar ao ponto. Já as comidas veganas prontas/industrializadas são cozinhadas rapidamente, porém o valor é bem alto. Quando cozinho, costumo postar fotos dos meus alimentos para maior divulgação do vegetarianismo nas redes sociais, a ponto de tentar suprimir a ideia de que comida sem carne é ruim.  Além disso, trabalho como artista visual, e em algumas das minhas obras o tema principal é dedicado ao vegetarianismo e empatia com a natureza/animais.”

Jéssica Montanari, 24 anos

 

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