Túlio Letti de Oliveira teve, nos últimos três anos, uma experiência muito diferente residindo nos EUA. Lá, ele tirou carteira de caminhão e trabalha no setor agrícola, carregando grãos entre os estados e morando no trailer que carrega junto para onde quer que vá
Foi na época da pandemia do Covid-19 que Túlio decidiu mudar de vida. Trabalhando com seu pai em um escritório despachante em Vacaria e cursando Agronomia, teve a ideia de mudar-se para fora do país para trabalhar. A primeira oportunidade de emprego apareceu no Facebook, sendo esta uma colheita terceirizada de grãos, como trigo, tendo a base da operação em Oklahoma.
“Mesmo com muita gente contra, fui em busca do meu destino. Viajei pelo país todo colhendo e fui aprendendo o inglês aos poucos, pois são muitos nomes técnicos na área agrícola”, comenta.
Túlio então, tirou a carteira de caminhão americana, em um processo que não foi fácil. Ele nos conta que são mais de cem questões para responder na prova escrita, além da análise geral do caminhão que, obviamente, precisa ser toda falada em inglês e, por último, a prova prática. Após aprovado, em quinze dias a carteira estava em mãos.
Em seu segundo ano neste ofício, o vacariano acabou sofrendo um acidente e tombou a carreta, obtendo danos materiais e algumas escoriações. Só após um mês de repouso, pode voltar às atividades, tentando não se deixar abalar pelo ocorrido.
“Tive um processo de enfrentamento de medos, pois neste momento a família queria que eu largasse tudo, mas preferi me recuperar e finalizar a colheita. Não me deixei levar pelo trauma e passei pelo momento difícil”, relembra ele.
Ao todo, Túlio contabiliza onze estados pelos quais já passou a trabalho, são eles: Oklahoma, Texas, Kansas, Colorado, Dakota do Sul, Dakota do Norte, Wyoming, Montana, Nebraska, Nova York e Flórida, sendo que nos dois últimos dirigiu caminhão de mudança.
“As pessoas são muito trabalhadoras e hospitaleiras. Vi situações que não são mostradas nas redes sociais ou filmes, como por exemplo, a diferença dos preços entre estados republicanos (vermelhos) e democratas (azuis). Já quando falamos em comida, o único jeito de matar um pouco da saudade de casa é indo em restaurantes mexicanos, onde conseguimos encontrar arroz, feijão e carne”, declara.
Por causa das condições climáticas, Túlio diz que ficou dois meses sem trabalhar. Em compensação, em outros dias chegou a atingir a marca de dezesseis horas de trabalho. “Nas nevascas, as operações tornam-se totalmente diferentes. Nos lugares com ameaça de tornado, avisos sonoros são disparados nas cidades e recebemos nos celulares, e então, devemos procurar abrigos subterrâneos. Todos correm imediatamente para locais seguros, que o governo providencia”, explica.
Na empresa em que trabalha atualmente, o viajante fica oito meses trabalhando, e retorna para o Brasil sempre no mês de Novembro, passando a temporada de verão aqui. Tem colegas de várias nacionalidades e não gasta com moradia, já que mora no trailer que é levado juntamente com a carga para as lavouras.
Sobre o mercado agrícola, Túlio explica a realidade americana para quem tem o mesmo desejo que o seu.
“A logística aqui é muito mais rápida em função da mecanização e tecnologia disponível. Já estive em silos que não tinha nenhuma pessoa, era tudo eletrônico. Depois de descarregar, é preciso apontar um cartão no leitor, sai o ticket de comprovante, e estamos liberados. Os caminhões são extremamente equipados e o diesel é isento de taxação, desde que seja para uso agrícola. A mão de obra é muito escassa para este tipo de serviço, portanto, tem oportunidade de balde pra quem quer colocar a mão na massa sem medo”, afirma.
Aos vinte e oito anos, Túlio é feliz com o que faz e diz ser visível a evolução pessoal que teve nesta aventura. No momento, está em sua terra natal, mas logo retorna para o estilo de vida que escolheu.
“Sou grato aos meus pais pelos valores e princípios que me ensinaram, para que assim eu pudesse desbravar o mundo com mais tranquilidade. Não vou dizer que é fácil, é preciso ter um psicológico muito forte para estar longe, em um trabalho pesado, mas tudo é satisfatório no final. Se eu não tivesse ido, nunca ia saber o que estava perdendo”, conclui, orgulhoso.